Uma das melhorias que os carros autônomos trarão para as pessoas nas grandes cidades é a possibilidade de trabalhar, ler ou simplesmente utilizar seus celulares sem preocupação durante os deslocamentos. Afinal, elas não precisarão mais prestar atenção a volantes.
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Contudo, há um problema simples — mas importante —, que as empresas desenvolvedoras de carros autônomos precisam resolver para tornar isso possível. Tratam-se dos enjoos que muitas pessoas sentem quando fixam o olhar em uma tela ou livro quando estão dentro de um veículo em movimento.
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“A comunidade dos veículos autônomos entende que esse é um problema real com o qual tem de lidar”, afirmou Monica Jones, pesquisadora de transportes da Universidade do Michigan, para o jornal The New York Times. Desde 2017, ela conduziu estudos em que 150 pessoas foram colocadas no banco da frente de um automóvel e conduzidas por um caminho tortuoso. Em uma das rodadas da experiência, os participantes do teste realizaram tarefas em um iPad.
Por volta de 11% deles ficaram enjoados ou pediram ao carro que parasse por outras razões, enquanto 4% chegaram a vomitar. Embora existam pessoas com mais propensão ao enjoo por causa de movimentos — como a própria pesquisadora —, ela afirma que o recrutamento do estudo foi bastante variável, com homens e mulheres que apresentavam históricos diferentes. De fato, os estudos de Jones apontam algo importante e que já está sendo observado pelas empresas que criam carros autônomos.
As soluções antienjoo das fabricantes
Como explica Maurício Malavasi Ganança, otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês, o sistema nervoso combina as informações recebidas pela visão, pelo tato e pelo labirinto (localizado no ouvido), para se orientar. Quando se está dentro de um veículo em movimento, pode acontecer um conflito no registro dessas informações, o que causa o enjoo.
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Em um exemplo prático: seus olhos estão no celular que está parado, suas pernas estão paradas (apoiadas no banco do carro), mas seu labirinto registra um movimento de 40 km/h ou 50 km/h. A resposta mais simples para o sistema nervoso é entender que seu organismo foi envenenado. Portanto, é necessário expulsar o veneno por meio do vômito. Essa é a origem do enjoo.
Uma solução simples para isso, portanto, seria não olhar para as telas de celulares ou tablets durante o trajeto. Contudo, como pondera Brian Lathrop, tecnólogo da Volkswagen, em publicação no The New York Times: “Se você está falando de um veículo autônomo de nível 4, precisa se perguntar: o que as pessoas farão no carro? A resposta fácil é de que elas usarão seus smartphones”. Por isso, a companhia já está trabalhando em soluções que possam ajudar.
A equipe de Lathrop está apostando na realidade virtual para diminuir essa desconexão entre os sentidos, que causa os enjoos. A ideia é programar os aplicativos de realidade virtual para que eles enviem estímulos visuais sincronizados com os movimentos do carro.
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A Audi já está fazendo experiências com jogos, porém “você pode aplicar essa mesma lógica a aplicativos de produtividade, atividade social, compras e exploração”, afirmou Lathrop à reportagem.
Carros autônomos suaves ou com estímulos sensoriais
Outras empresas também trabalham nas suas próprias soluções para o enjoo de movimento. De acordo com uma reportagem de 2017, do periódico inglês The Guardian, a Uber patenteou um sistema antienjoo com diversos estímulos sensoriais para distrair o cérebro dos passageiros. Entre eles, estariam luzes e telas que indicariam se o carro virará ou freará, além de bancos que vibram ou inclinam de acordo com os movimentos do veículo. Além disso, o sistema de ar-condicionado sopraria jatos de ar, também sincronizados.
Enquanto Uber e Volkswagen miram nos estímulos sensoriais, a ZF — que fornece componentes para várias fabricantes de automóveis — trabalha em outra direção. Para a companhia, é possível programar os carros autônomos para que eles entendam que certas manobras causam enjoo nos passageiros e devem ser evitadas.
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Afinal, uma vez que esses veículos já calculam os dados de diversos sensores para definir seus deslocamentos, o bem-estar dos passageiros pode ser mais uma variável dessa equação.
Por enquanto, as experiências da ZF utilizam eletrodos conectados ao couro cabeludo ou ao peito dos participantes dos testes, para monitorar atividades cerebrais e cardíacas. Porém, quando os carros autônomos estiverem disponíveis para o público em geral, é provável que esse tipo de sistema antienjoo funcione por meio de câmeras com reconhecimento facial ou wearables — acessórios eletrônicos, como os smartwatches.
Fonte: The New York Times, The Guardian, Hospital Sírio Libanês.
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