Tecnologias de propulsão mais limpa contribuem para a solução de um problema gerado justamente pelos veículos
Por Jornal do Carro – editada por Mariana Collini em 05/11/2024
Caminho sem volta. A frase se tornou praticamente um mantra quando se fala de mobilidade elétrica no Brasil. Afinal, mitigar as consequências do aquecimento global provocadas pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE) é uma emergência no mundo todo.
Segundo relatório apresentado no ano passado no Fórum Internacional do Transporte, instituição ligada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o transporte responde por 20% das emissões globais de CO2.
Os automóveis de passeio são responsáveis por dois quintos desse volume. Se os carros são parte do problema, também precisam contribuir para a solução.
Para reduzir os níveis de emissões, o setor automotivo é unânime em defender que não há um único remédio, mas sim várias tecnologias.
“Há níveis diferentes de eletrificação em contínua evolução, que marcam justamente a transição energética no transporte”, afirma Raquel Mizoe, diretora de Consumo e Emissões de Veículos Leves da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). “Cada uma delas apresenta ganho de consumo e, portanto, de eficiência energética.”
No Brasil, a oferta de veículos eletrificados cresce a passos largos. De acordo com dados de emplacamento do Renavam, nos primeiros sete meses do ano, 94.587 veículos híbridos e elétricos ganharam as ruas brasileiras, número 140% maior sobre o mesmo período de 2023, quando foram emplacadas 39.711 unidades.
O crescimento está baseado em cinco tecnologias, distribuídas entre os modelos híbridos e 100% elétrico:
Híbrido leves (MHEV)
É o sistema mais simples, dotado de um dispositivo de 12 ou 48 volts com gerador e uma bateria pequena. A tecnologia não traciona o carro, mas promove ganho de torque e potência para o motor a combustão e também economia de combustível e menores emissões. “Entrega, em média, um consumo 10% melhor se comparado ao do automóvel com motor a combustão”, diz Mizoe.
Híbrido completo (HEV)
Tem um motor elétrico responsável por tracionar as rodas e permitir alguma autonomia em condução puramente elétrica. As baterias são maiores e carregadas pelo motor a combustão, que funciona como um gerador. De acordo com a diretora da AEA, o híbrido puro é capaz de reduzir em até 25% o consumo.
Híbrido Plug-in (PHEV)
Ele se diferencia pela necessidade de alimentar as baterias na tomada. Leva vantagem em relação à autonomia combinada, podendo chegar a mais de 1.000 km rodados.
Híbrido Flex (HEV Flex)
Exclusividade brasileira, ele combina o motor elétrico com o outro a combustão, podendo ser abastecido com etanol ou gasolina. O etanol é capaz de reduzir em até 73% as emissões de CO2 na atmosfera se comparado à gasolina, conforme estudos da Embrapa Agrobiologia.
Para Mizoe, o Brasil parte de uma régua mais alta no enfrentamento das mudanças climáticas graças ao etanol. “O País tem condições de aumentar a descarbonização da frota já existente. Os híbridos flex – tecnologia que a indústria nacional sinaliza adotar com mais força – se mostram como solução regional mais eficiente”, revela.
Elétricos (BEV)
São os automóveis acionados puramente por bateria. Não emitem poluição durante a condução e trafegam quase sem ruído. As maiores resistências ainda são o preço elevado e a infraestrutura de recarga.
“As viagens acabam provocando receio no consumidor, embora as fabricantes já prometam autonomia de até 600 quilômetros em seus automóveis”, lembra a especialista da AEA.
Seja qual for a tecnologia, o Brasil já ostenta um ambiente mais descarbonizado em relação a outros países. “Nossa gasolina recebe a mistura de 27% de etanol na composição. Além disso, mais de 90% da energia elétrica é gerada por fontes renováveis”, completa. A julgar por tantas possibilidades, a eletrificação tem se mostrado, de fato, um caminho sem volta no mercado brasileiro.
Crédito: BYD/Divulgação