Se quando falamos de espaços compartilhados por ciclistas, pedestres e carros provavelmente vem à sua mente imagens do caos das grandes metrópoles, saiba que a realidade em alguns locais é bem diferente dessa.
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Algumas iniciativas pelo mundo mostram que é possível criar um ambiente integrado para todos, com resultados que podem ser surpreendentes.
Esses espaços têm em comum o fato de oferecerem integração para automóveis, bicicletas e pessoas através da diminuição dos limites de velocidade para carros e da redução dos sinais de trânsito. Sim, parece estranho, mas limitar o número de placas, semáforos e sinalizações faz com que a integração seja facilitada.
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É possível que isso seja resultado do senso de autopreservação, que nos deixa extravigilantes quando estamos em ambientes em que as instruções para a circulação não são tão claras. Assim, todos acabam prestando muito mais atenção, e os acidentes diminuem. Os exemplos a seguir mostram que, apesar de diferente, a ideia pode dar muito certo.
1. Exhibition Road, em Londres
A rua que é um dos pontos turísticos mais conhecidos de Londres foi o foco de um concurso de melhorias para o seu design em 2003. O escritório de arquitetura vencedor, Dixon e Jones, propôs que a rua fosse um espaço compartilhado entre pedestres, carros e bicicletas. Pensada para ser um local em que a preferência é de quem está a pé, no início foi necessário colocar placas indicando a restrição para motoristas e transeuntes. Com o tempo, outras placas, como as que indicavam a direção em que se devia dirigir e as que lembravam os pedestres de olhar para os dois lados da pista, foram sendo removidas, e hoje a rua se mantêm compartilhada e com poucos problemas no histórico.
2. Brighton e Hove, Inglaterra
Na cidade inglesa de Brighton e Hove também foi criado um espaço compartilhado em 2007. A rua New Road tem um design que permite a convivência harmônica, principalmente entre ciclistas e pedestres. Os carros também são bem-vindos, mas devido ao movimento da rua durante o dia e no fim de tarde os motoristas preferem ficar fora dela; ou seja, mesmo que de forma involuntária a criação de espaços assim favorece o menor uso de automóveis.
3. Bell Street Park, em Seattle
Essa rua de Seattle foi a primeira a ser um espaço compartilhado nos EUA. Localizada no bairro com mais densidade populacional da cidade, a iniciativa foi a saída para resolver a equação entre pedestres e carros. O espaço tem 56 mil metros quadrados e conta com diversas opções de lazer para os moradores. Para diminuir o fluxo de automóveis no local foram criadas duas regras: redução do limite de velocidade e restrição de circulação — só é possível andar uma quadra dentro da Bell Street Park, com conversão obrigatória após isso.
Um estudo publicado pela instituição responsável pelas rodovias e pelo transporte no Reino Unido (Chartered Institution of Highways & Transportation — CIHT) analisou 11 espaços compartilhados espalhados pelo país e concluiu que em geral os efeitos foram positivos. A maioria dos projetos analisados indicou melhora no fluxo de movimento pela rua e na qualidade do meio ambiente, o que seria resultado da diminuição da poluição visual causada pelos sinais de trânsito e do aumento de mobiliário urbano, como bancos e arte pública.
A saúde e a segurança tiveram resultados neutros ou positivos, e os resultados negativos ficaram por conta da inclusão de pessoas com mobilidade reduzida que relataram não se sentirem seguras para frequentar esses locais, inclusive confessando evitá-los.
O estudo ainda trouxe um dado interessante sobre a nomenclatura usada para definir esses locais. Segundo a CIHT, apesar de os sinais serem propositadamente vagos, os nomes dados aos espaços não devem ser. A instituição britânica sugere que se substitua a nomenclatura “espaços compartilhados” por “espaços prioritários para pedestres” quando a ideia for deixá-los como protagonistas do espaço e os carros como convidados. “Ruas informais” deve ser utilizado quando não houver sinais de trânsito, onde a população tenha calçadas para andar e os automóveis devam ficar na rua.
Por fim, espaços em que os pedestres não tenham restrições de uso, mas que os sinais de trânsito se mantenham, devem ser chamados de “ruas melhoradas”. Ainda de acordo com a instituição, essas nomenclaturas devem ser adotadas após estudos sobre o fluxo do tráfego, para que a aplicação desse tipo de iniciativa tenha menos impactos negativos.
De qualquer forma, o que essas soluções mostram é que um trânsito mais civilizado é possível. Quem sabe em breve essas ideias cheguem ao Brasil…
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Fonte: Nacto, The Drive, New Jersey Bicycle and Pedestrian Resource Center, Cleanair, Smart Cities Dive.