No artigo Mobilidade por aplicativo no Brasil: características e padrões de consumo, Lucas Warwar e Rafael H. M. Pereira traçam um perfil dos usuários dos apps de transporte no Brasil. Trabalhando com os dados divulgados pela da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018, gerados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os autores mencionam que, em 2018, apenas 3,1% das pessoas acima de 15 anos utilizavam esse tipo de serviço.
Em 2018, apesar de a maioria das cidades brasileiras já contarem com os serviços de transporte por aplicativo disponíveis, 60% das corridas se concentravam nas grandes cidades. Além disso, a maioria dos usuários eram mulheres brancas, com taxa de escolaridade elevada e de classes mais altas.
O maior uso de aplicativos por classes sociais mais altas era uma característica global, comprovada por pesquisas também nos Estados Unidos, berço dos aplicativos de transporte.
Os primeiros apps desse setor foram criados para um público mais elitizado. Foi só a partir do momento em que se notou a possibilidade de crescimento do setor que esses aplicativos visaram a um público mais abrangente.
Novos usuários do transporte por aplicativo
Esse cenário pode estar mudando, principalmente após os efeitos da pandemia de covid-19 começarem a ser sentidos. Uma pesquisa do Datafolha de maio de 2021 mostrou que, entre a classe C (pessoas que têm renda familiar média entre 4 e 10 salários-mínimos), o número de novos usuários de aplicativos de transporte foi de 30%, enquanto o crescimento nas classes A e B foi de 14%.
Segundo a pesquisa, 40% dos entrevistados que usam aplicativos de transporte queriam evitar transportes coletivos lotados; 35% usam para ir ao mercado e 21% para ir ao trabalho. Os aplicativos de transporte já são os maiores concorrentes do transporte coletivo nessa classe.
Uma das características do uso pela classe C é a integração com outros tipos de transporte urbano. A 99 divulgou dados mostrando o crescimento das corridas das periferias para os grandes centros e como as corridas costumam ser mais curtas, levando passageiros a pontos ou terminais de ônibus e metrôs.
Em São Paulo, a cada dez corridas iniciadas em regiões mais pobres da cidade, sete têm como destino estações de transporte coletivo. Nas áreas mais ricas, esse número cai para 2 em 10.
Dificuldades do setor de transporte por aplicativo
Apesar do crescimento da demanda por corridas, o aumento dos combustíveis tem piorado a situação de quem depende de aplicativo de transporte. Com a gasolina apresentando um aumento de 51% em 2021, muitos motoristas têm evitado corridas curtas e corridas por áreas com engarrafamento. Os usuários reclamam da dificuldade em conseguir uma corrida, tendo que passar por vários cancelamentos. Além disso, os valores praticados precisaram subir rapidamente.
Fonte: Use Mobile, Anpet, Machine Global.