Financiamento do transporte público pode se tornar uma das principais pautas deste ano, afirma especialista
Por Erick Souza, especial para o Mobilidade
Transporte público pode se tornar o centro da discussão no próximo ano, com mais cidades aderindo novos modos de financiamento. Foto:
Ao longo de 2023, várias pautas orbitaram o universo da mobilidade urbana. Ainda como efeito colateral da pandemia da Covid-19, tivemos um represamento da produção das bicicletas no País. Ao mesmo tempo, o crescimento de cidades com tarifa zero bateu recordes, assim como o uso de carro nas capitais.
Para o próximo ano, Sergio Avelleda acredita que teremos mais discussões com esse tom, desta vez com foco em transporte público e segurança viária. Avelleda é coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper.
Confira 4 pontos importantes para a mobilidade urbana em 2024:
Financiamento do transporte público
Segundo Avelleda, estamos presenciando uma crise de recursos para o financiamento do transporte público e isso pode se estender para o próximo ano. “O modelo de financiamento de dividir os custos pelos usuários e cobrar de cada usuário os custos do serviço, não é mais o suficiente”, afirma.
Entre 2019 e 2022, o número de passageiros de ônibus caiu de 33 milhões para 25 milhões, de acordo com a Associação Nacional de Transporte Urbano (NTU). Para o professor, essa queda de usuários não sustenta esse modelo de financiamento.
Por esse motivo, o número de cidades que pagam subsídios para o transporte público pode aumentar. “O que já vem acontecendo, por exemplo, é o número de cidades com tarifa zero nos ônibus”, afirma.
Em 2023, 26 cidades aderiram ao passe livre integral nos serviços de transporte público. Como aconteceu em São Caetano do Sul e Capão Bonito, no Estado de São Paulo.
A capital também já implementou o projeto de tarifa zero aos domingos, apelidado de Domingão Tarifa Zero. Apesar do financiamento do programa não ter sido detalhado, o prefeito afirmou que não haverá aumento de recursos para custear a iniciativa.
Prioridade do transporte público na gestão pública
Apesar do crescimento das cidades oferecendo tarifa zero, os serviços de transporte público também precisam oferecer melhores condições de viagens. Para Avelleda, esse incentivo exige uma melhoria multidimensional das estruturas das cidades e dos próprios veículos.
“É preciso que as prefeituras priorizem a gestão do espaço em razão do ônibus”, afirma. Por exemplo, um ônibus pode levar até oitenta vezes mais pessoas que um automóvel particular. Por esse motivo, segundo Avelleda, as gestões deveriam priorizar oitenta vezes mais espaço para o transporte público nas cidades.
Além disso, as cidades deverão priorizar mais eficiência e rapidez nas viagens. Para o coordenador, isso pode ser feito com a implantação de faixas e corredores exclusivos para de ônibus, que exigiriam menos recursos.
No último ano, o governo federal também lançou o programa Mobilidade Urbana com recursos do Orçamento Geral da União (OGU), com financiamento ao setor público de ações para a melhoria da circulação das pessoas nos ambientes urbanos. O projeto tem como objetivo a qualificação viária, melhoria do transporte público coletivo de caráter urbano, transporte não motorizado (transporte ativo) e para a elaboração de planos de mobilidade urbana e de projetos executivos.
Segurança viária
“O trânsito ainda é a maior causa de morte dentre os jovens no Brasil, nós perdemos no País cerca de 120 pessoas por dia”, afirma. Esse número é o equivalente à média de mortos em um acidente de avião.
Reduzir as velocidades é muito importante, afirma Avelleda. Para o coordenador, algumas medidas como desenhar as ruas para acalmar o tráfego e estabelecer mais rigor na fiscalização pode ajudar a diminuir o número de casos.
Entre janeiro e setembro deste ano, o número de veículos leves vítimas de acidentes que não utilizavam cinto de segurança cresceu em 29%. Já em veículos pesados (ônibus, carretas e caminhões), esse número aumentou 19%.
Eletrificação da frota
Em 2023, diversas cidades anunciaram ao longo do ano a implantação de novas frotas de ônibus eletrificados e estrutura específica para este tipo de veículo. Para Avelleda, o assunto deve se desenvolver ainda mais no próximo ano.
São Paulo, por exemplo, anunciou que deve incluir mais 2 mil ônibus elétricos até o final de 2024. Ao mesmo tempo, Curitiba, no Paraná, também pretende oferecer 70 eletrificados no próximo ano.
Em 2022, o país bateu recorde de emplacamentos, com 49,2 mil veículos licenciados, de acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O número representa um aumento de 41% em relação a 2021, quando foram 35 mil emplacamentos.