Há cerca de um ano e meio, a pandemia da covid-19 vem fazendo vítimas em todo o mundo. No Brasil, o número de óbitos já ultrapassa a marca de 600 mil e os efeitos vão além desse número assustador: junto à crise sanitária, ocorre também uma crise econômica. E ela leva a mais mortes, inclusive no trânsito.
Foi isso que um relatório da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) publicado neste ano descobriu. Mais mortes na mobilidade urbana foram registradas no período da pandemia, sobretudo com motociclistas.
Conheça mais sobre esse fenômeno e entenda como os sinistros envolvendo motos se relacionam com os efeitos da pandemia e com a desigualdade econômica e socioespacial.
O aumento de acidentes de moto
Em relação aos acidentes envolvendo motociclistas, o ano de 2021 começa com más notícias. Ao todo, 54% dos acidentes no trânsito em 2021 ocorreram com motos, totalizando 167 mil eventos.
No primeiro semestre deste ano, o número de sinistros de moto envolvendo traumas que demandaram internação hospitalar no Sistema Único de Saúde teve um aumento de 14% em relação ao mesmo período do ano passado. O impacto nos cofres públicos chegou a R$ 279 milhões, verba suficiente para construir mais de 500 unidades de saúde.
Se a velocidade é uma marca das entregas, as estatísticas não ficam atrás: é possível perceber uma aceleração no número de acidentes. Entre 2015 e 2020, o crescimento foi de 15%, percurso feito agora em apenas um ano.
O crescimento nos sinistros também acompanha a taxa de vendas de motocicletas. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, o primeiro semestre deste ano registrou 50% mais vendas de motos.
Entenda a relação entre os acidentes de moto e a desigualdade
Com a vacinação da população brasileira contra o Sars-CoV-2, já é possível enxergar uma luz no fim do túnel em relação à retomada da “normalidade”, ou ao menos de um “novo normal”. Mas o mundo está diferente do que era no começo de 2020. E, no que se refere à economia, é possível dizer que ele está mais desigual.
No Brasil, o desemprego atinge cerca de 14 milhões de pessoas. Na ausência de empregos formais, cresce o número de trabalhadores que trabalham em plataformas de delivery e mobilidade.
Quem tinha alguma estrutura, pode optar pelo compartilhamento de caronas. Mas quem não consegue arcar com os custos de um veículo se viu compelido a procurar os apps de entrega. Afinal, as motos são mais baratas.
É esse público, que trabalha longas horas sob condições precárias, que ajudou no aumento das estatísticas de sinistros envolvendo motocicletas. Segundo a Abramet, 80% dos acidentados são homens e 35% deles têm entre 20 e 29 anos. Trata-se de uma geração que entra no mercado de trabalho em um dos piores cenários da economia contemporânea.
Fonte: EBC, Mobilize.