Os custos decorrentes de acidentes de trânsito somaram R$ 1,5 trilhão no Brasil no período de 2007 a 2018, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O valor representa quase duas vezes a redução de gastos previstos pela Reforma da Previdência e inclui internações médicas, reembolsos e indenizações, além da perda de vidas.
Inscreva-se agora para o Estadão Summit Mobilidade. É online e gratuito.
A pesquisa Impactos Socioeconômicos dos Acidentes de Transporte no Brasil, realizada pelo Ipea, identificou 479.857 óbitos nos registros do DATASUS ao longo de 12 anos. O Brasil ocupa o terceiro lugar global em mortes de trânsito, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2017. A maioria das vítimas são jovens de 18 a 34 anos.
O estudo também identificou números elevados de acidentes com idosos devido a capacidade motora reduzida, entre outros fatores. Por outro lado, com a obrigatoriedade do uso de cadeirinhas infantis a partir de 2008, os óbitos de crianças foram reduzidos.
Aumento de mortes com motocicletas
O Ipea destaca o crescimento dos acidentes fatais com motocicletas, que em 2009 ultrapassaram os indicadores de mortes com automóveis. O estudo indica que as principais causas dos acidentes de trânsito envolvendo motos são a baixa qualidade das vias, as ruas compartilhadas com veículos de diferentes tamanhos e a má formação dos condutores.
O aumento de circulação desse tipo de veículo nos últimos anos, devido a menores preços, isenções tributárias, gastos com combustíveis e manutenção fizeram da motocicleta uma opção de menor custo para famílias de baixa renda. Entre 2007 e 2019, a frota de motos chegou a crescer mais de 250% na região Nordeste e mais de 200% no Norte do País.
As ocorrências envolvendo motocicletas se tornaram a maior causa de afastamento por acidentes de trajeto ao trabalho, segundo dados de 2019 do Ministério da Economia. Cerca de 145 mil indenizações foram pagas por óbito de condutores de motos entre 2008 e 2018: um número substancialmente maior que as 66 mil reparações pagas a condutores de automóveis.
Melhoria nos transportes
Além de trazer um panorama sobre a quantidade e a gravidade de acidentes de transportes no País, o estudo pretende contribuir para a formulação de políticas públicas. Por meio da análise dos custos sociais e financeiros envolvidos em um acidente, é possível dar novas diretrizes às políticas de transporte e impactar o sistema de saúde e o sistema previdenciário.
As políticas públicas devem privilegiar os vulneráveis, como pedestres, ciclistas e motociclistas no traçado de vias em relação aos veículos, defende o Ipea. Outra sugestão do estudo é rever a regulamentação de equipamentos de segurança individual nos diversos meios de transporte, especialmente no caso das bicicletas.
A pesquisa destaca a necessidade de infraestrutura para pedestres e opções de transporte público, principalmente em áreas economicamente desfavorecidas, que são mais atingidas por acidentes com óbitos, em especial para a população que reside ou trafega em áreas limítrofes às rodovias.
Investimentos em mobilidade segura
A iniciativa privada também deve participar de forma mais ativa de soluções que reduzam as mortes de trânsito, segundo o relatório. O argumento de que o alto custo de implementação das melhorias torna inviável a margem de lucro desconsidera o impacto dos acidentes na perda de competitividade no mercado internacional e o elevado número de mortes e casos de invalidez permanente.
O estudo sugere também que os governos orientem o investimento em soluções de mobilidade que contemplem soluções de segurança em rodovias e ruas para torná-las mais amigáveis. Isso traria ganhos imediatos na redução de vítimas hospitalizadas na rede pública e economia dos recursos.
Fonte: Ipea, Via Trolebus