Centros urbanos de todo o mundo são fracionados de alguma maneira, com zonas destinadas ao comércio, à vida residencial, à indústria e assim por diante. No Brasil não é diferente; contudo, o modo como as áreas são divididas é, em grande parte, responsável pelo que é chamado de desigualdade socioespacial.
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Segundo pesquisa da Ipsos/99 divulgada em maio de 2019, o brasileiro gasta, em média, 1 hora e 20 minutos entre idas e voltas para realizar as atividades do dia a dia. Uma pessoa pode perder até 32 dias no ano apenas durante os trajetos cotidianos. O que mais chama atenção, porém, não é a média total, mas a diferença dos números entre as classes sociais.
Enquanto pessoas que se enquadram nas classes mais altas (A e B) correspondem à média geral, quem está nas classes D e E leva cerca de 130 minutos para ir e voltar do trabalho — mais de 2 horas por dia. Além do tempo, essa diferença impacta financeiramente, uma vez que tanto o transporte público quanto o privado geram gastos.
Com a concentração de serviços, empregos, cultura e demais atividades no centro das cidades, os moradores das periferias acabam sendo excluídos de diversas oportunidades, de acordo com a urbanista Eugênia Dória Viana Cerqueira. Isso não é algo atual nem exclusivo do Brasil: o problema é facilmente encontrado em metrópoles de todo o mundo.
Diversos historiadores mostram que a situação é complicada desde a origem das cidades, que foram construídas por aqui seguindo os moldes coloniais da Europa, com uma praça principal e uma malha residencial ao redor.
Conforme a expansão urbana foi tomando conta do País, essa estrutura se manteve e o centro continuou com o status de “principal”, enquanto os arredores foram se afastando mais e mais, sem políticas públicas que reduzissem os impactos sociais dessa divisão.
Mudanças contra a desigualdade
Ao longo das últimas décadas, iniciativas estão transformando a vida nas periferias e tornando a desigualdade socioespacial um pouco menor, ainda que de forma incompleta. Urbanistas chamam esse fenômeno de “centralidade secundária”. São regiões fora do centro, mas que oferecem alguns dos atrativos que normalmente ficariam por lá. Isso traz oportunidades de trabalho e lazer sem que exista tanta dependência do sistema de transporte público. Contudo, Cerqueira afirma que essa nova centralidade ainda ocorre timidamente nas grandes cidades e não resolve o problema como um todo.
Outra situação recente que vem alterando a forma como a periferia acessa o centro é o fenômeno dos aplicativos de transporte, como 99 e Uber. Por trazerem uma opção extra de integração, por vezes compensam a falta ou a ineficácia de trechos do sistema público, como demonstrou a pesquisa encomendada pela 99.
Essas mudanças na mobilidade urbana trazem bons efeitos para a redução da desigualdade socioespacial, mas não podem parar por aqui. Especialistas como Cerqueira concordam que é necessário haver investimento urgente no transporte público já existente e no estudo para que novas tecnologias surjam.