No Brasil, pesquisadores, empresários, agentes públicos e entidades da sociedade civil têm refletido sobre a implantação de ônibus elétricos por aqui. Mas a questão é desafiadora e esbarra em vários dilemas. Conheça um pouco dessa discussão e a tendência para o futuro do transporte urbano do País.
Por que eletrificar a frota?
A principal vantagem da eletrificação da frota se refere à não emissão de gases poluentes. Estima-se que, na cidade de São Paulo, a redução de emissão de poluentes seria de aproximadamente 85% caso os veículos elétricos fossem adotados na totalidade.
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Mas há ainda outros pontos que tornam o modelo mais sustentável e, em médio e longo prazos, viável economicamente. Uma das razões da economia está no baixo custo de manutenção. Com menos componentes mecânicos em relação ao motor a diesel, que precisa produzir energia a partir do combustível, o custo com a mecânica do ônibus é reduzido e, em uma frota com dezenas, centenas ou milhares de veículos, isso é significativo.
Outro ganho é a eficiência: ao passo que um motor elétrico é capaz de converter 95% da energia armazenada em impulso das rodas, a taxa em um motor a combustão comum está perto de 35%.
Desafios
Se os benefícios desse modal são evidentes, ainda há barreiras que dificultam a eletrificação da frota. Um dos problemas apontados é a autonomia do veículo: os ônibus elétricos têm capacidade para rodar até 250 quilômetros, e o tempo para a realização da carga total é de quatro horas. Diante disso, algumas cidades optam por cargas totais nas garagens e outras, por pequenas cargas nas paradas em terminais.
O desenvolvimento de baterias com maior capacidade é um elemento vital para que as empresas de transporte escolham mais claramente o modelo elétrico. Além disso, os custos da bateria estão entre os elementos que mais encarecem o veículo: pesquisadores estimam que 60% do custo dos ônibus elétricos sejam relacionados a essa peça.
Há lacunas a serem desenvolvidas que tendem a aumentar a eficiência da bateria dos veículos nos próximos anos. Uma delas é o fato de que a frenagem poderia ser usada para recarregar a bateria do veículo, mas isso ainda não ocorre. Incrementos como esse podem ser o ponto de virada na balança dos ônibus elétricos e ganhar empresários do setor.
Pesquisadores brasileiros acreditam que a migração em massa para o modal elétrico estará mais próxima caso o Brasil tenha políticas públicas que estimulem soluções desse tipo de transporte. Afinal, embora os modelos chineses respondam pelos melhores veículos do mercado, é importante que o país tenha autonomia e procure soluções que viabilizem e barateiem o modelo.
Um relatório produzido pela Universidade de Columbia subsidiou esse argumento: segundo o estudo, após 12 anos de uso, os ônibus elétricos já passam a ter vantagem financeira em relação aos veículos a diesel; caso considerem-se os custos da poluição à saúde pública, em dois anos o investimento se pagaria. Por isso, a opção pelo modal elétrico precisa responder a um investimento e a um planejamento público que aponte para as próximas décadas.
Outro ponto é a capacidade de o país produzir energia elétrica suficiente. É verdade que a energia elétrica é menos poluente do que a queima de combustíveis fósseis, mas a infraestrutura energética precisa se adaptar para receber a demanda dos ônibus urbanos. Caso contrário, é provável que tenhamos que recorrer à energia térmica para garantir o uso de veículos elétricos, o que impacta o meio ambiente igualmente.
Em razão disso, é necessário pensar na eletrificação da frota como um norte, cuja conquista pode ser acelerada com a otimização de uma série de variáveis. Porém, caso não haja um projeto público que leve isso em consideração, não apenas essa meta estará mais distante, como também pode perder o sentido.
Soluções
Por isso, é oportuno que a eletrificação da frota seja um elemento que conste nas políticas públicas de mobilidade do país e nas demais políticas pertinentes à área, como na discussão de soberania energética.
Além disso, é necessário que progressivamente o Estado crie polos de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia que respondam aos desafios da área, com políticas públicas específicas e clusters de inovação com expertise na área, tal como ocorreu na China.
É vital que as políticas de indução de inovação no setor partam do Estado e envolvam as empresas do setor, assim como permitam a incubação de experiências que respondam aos desafios de uma agenda para várias décadas.
Fonte: Mobilize, Diário do Transporte, Automotive Business.
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