A mobilidade ativa tem ganhado atenção durante a pandemia: além de ótimas opções para a saúde e o meio ambiente, caminhar e pedalar estão entre as formas de deslocamento com menor risco de contágio pelo vírus da covid-19, que já causou mais de 108 mil mortes apenas no Brasil.
Por que pensar a mobilidade para os pedestres?
Se faz sentido que todos os cidadãos optem por esses tipos de mobilidade, tanto mais eles são recomendados aos profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia.
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E é esta a novidade que tem feito da capital colombiana uma referência no mundo: Bogotá criou uma rede cicloviária em caráter emergencial com rota pensada para esses trabalhadores, de forma a garantir que eles se locomovam sem contaminar outras pessoas.
Estímulo
A medida também foi implementada em outros lugares. Paris (França), Berlim (Alemanha), Barcelona (Espanha), Milão (Itália) e outras cidades criaram saídas semelhantes em razão do baixo custo, da rapidez e eficiência das ciclovias pop-up (nome dado aos trajetos adaptados).
No contexto da América Latina, o que destaca a iniciativa de Bogotá é, em primeiro lugar, a escala da mudança: os mais de 100 quilômetros que eram adaptados aos fins de semana para o lazer da população se tornaram, durante a pandemia, fixos em todos os dias. Assim, algumas faixas das vias congestionadas por carros passaram a ter trânsito livre para as bikes, que são mais do que oportunas nos trajetos cotidianos.
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Além disso, chama atenção uma cultura cicloamigável. A primeira ciclovia de Bogotá tem quase 50 anos, e a cidade já ganhou prêmios por estar entre as campeãs da região nesse quesito. E esses espaços de lazer são fundamentais, porque familiarizam os habitantes com as bicicletas.
Projeto
A prefeita de Bogotá, Claudia López Hernández, faz parte dos entusiastas da bicicleta. Isso explica em grande medida o fato de haver vontade política para a estruturação desse modal, que promete ser potencializado durante a pandemia e deixar um bom legado — enfim algo positivo nesse período atípico.
Para este ano, a gestão municipal previa aumentar em 50% os 550 quilômetros de ciclovias da capital, a sexta cidade mais congestionada do mundo. Uma breve comparação pode ajudar a enxergar o quadro de Bogotá: com cerca de 3 milhões de habitantes a menos que São Paulo, a cidade conta com metade da malha cicloviária da megalópole brasileira; daí porque os colombianos estão interessados em aumentar a área dedicada às bikes.
A longo prazo, a meta é ainda mais ousada: o município deseja que 50% dos deslocamentos urbanos sejam feitos por modais de micromobilidade, como bicicletas e motocicletas. Por isso, a cidade tem feito da pandemia uma oportunidade para ventilar os benefícios de pedalar, algo ainda mais importante em um local com cerca de 8 milhões de habitantes e que, embora tenha um sistema consolidado de ônibus de trânsito rápido (BRT), não possui metrô.
América Latina
A saída apontada por Bogotá promete ser um sucesso por uma série de características que são comuns às maiores cidades da América Latina. Em regra, esses locais têm grandes periferias cujos habitantes moram a muitos quilômetros de seus empregos, que ficam nas regiões centrais. Por essa razão, apresentam um enorme gargalo no sistema de transporte coletivo que tende a se tornar insustentável após a pandemia.
Além disso, os veículos particulares, além de poluidores, não são muito eficazes. Como as cidades não foram planejadas para comportar milhões de pessoas, há um problema crônico de lentidão e congestionamento. Um levantamento revelou que em São Paulo, que tem mais de 10 milhões de habitantes, o tempo gasto de deslocamentos de carro pode ser o mesmo de ônibus.
É por isso que as cidades inteligentes têm feito apostas na ciclomobilidade, assim como Bogotá. Com implantação rápida, simples e barata, a extensão da malha cicloviária deixa de ser uma opção e passa a ser vista, cada vez mais, como uma necessidade para que as pessoas acessem a cidade onde vivem. Mesmo após a pandemia, os benefícios à saúde e ao meio ambiente podem permanecer em voga.
Cicloplanejamento
Diante dessa tendência, há basicamente duas formas de planejar a ciclomobilidade no espaço urbano. O primeiro deles se refere a capilarizar as ciclovias por longos trajetos, a exemplo de Londres: na capital inglesa, há uma série de autopistas segregadas para bicicletas ligando a cidade à periferia.
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A segunda forma de pensar a inclusão da bicicleta no cotidiano das pessoas é pela lógica da última milha. Nessa perspectiva, opta-se por criar políticas que integrem diferentes modais e permitam que o cidadão componha seu trajeto de acordo com as opções que mais são oportunas. No caso de Bogotá, pode-se fazer um trecho de BRT e outro de bicicleta, somando alternativas de deslocamento.
Esse sistema tem ganhado a preferência de diversas cidades e parece ser mais apropriado à América Latina, cujos bairros periféricos e as cidades-dormitório do seu entorno podem estar a dezenas de quilômetros do destino diário de quem precisa se locomover.
Fonte: Bloomberg, Summit Mobilidade Urbana
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