Quando se fala em mobilidade urbana, logo vêm à mente cidades com engarrafamentos, motoristas impacientes, além de ônibus e metrôs lotados. Porém, a mobilidade envolve todas as estratégias usadas por humanos para ir de um local a outro. No Norte do Brasil, o transporte fluvial é um dos mais utilizados e apresenta desafios próprios para atender de maneira eficiente toda a população ribeirinha.
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“Infelizmente, o conhecimento local de ribeirinhos e caiçaras não tem sido devidamente valorizado e utilizado por gestores ambientais, tomadores de decisão e pesquisadores das áreas de ciências biológicas”, analisam os biólogos Renato Azevedo Matias Silvano e Alpina Begossi, em artigo publicado no site Com Ciência. Isso também afeta a forma como o transporte fluvial é administrado na região.
De acordo com Bruno Merlin, do site Portogente, existem 16 mil quilômetros de malha hidroviária na região Norte brasileira. Em 2017, havia 196 terminais hidroviários, que movimentaram 9,7 milhões de passageiros e 2,4 milhões de toneladas de carga, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
Transporte de cargas
“A região Norte ficou anos sem receber investimentos em infraestrutura. Dadas as distâncias existentes entre os principais pontos de origem e destino, a intermodalidade, mediante a combinação dos sistemas de transporte rodoviário, fluvial, marítimo e aéreo, realizou-se de forma concreta, porém sem eficiência”, analisa Gilvan Huosell Ramos, diretor de uma empresa de logística, em entrevista ao Transporta Brasil. Para o especialista, uma forma de fomentar o desenvolvimento seria por meio de acordos bilaterais com países vizinhos.
Segundo a pesquisa Custos Logísticos no Brasil, realizada em 2017 pela Fundação Dom Cabral, o transporte de cargas rodoviário é predominante no país, representando 75,9% das entregas. Já o meio hidroviário é utilizado apenas em 0,7% das situações.
A questão educacional
Além do transporte de cargas, os barcos e navios são muito utilizados como meio de locomoção das populações ribeirinhas, sendo fundamental dentro da economia local. A malha hidroviária é também é importante para que alunos cheguem a escolas, mas nem sempre isso se dá de maneira adequada. A professora Cristina Pereira Lameiras, em entrevista à EBC, conta que muitas vezes o transporte é feito em botes, que são muito mais perigosos. “Sem prática, o bote vira mesmo”, explica.
A falta de um auxiliar é apontada como um risco a mais no transporte escolar fluvial. “Há muitas toras nos rios, e eu preciso estar atento para evitar acidentes. Algumas crianças, pela idade, são mais difíceis porque fazem muita bagunça”, comenta em entrevista à EBC o condutor Raimundo Mateus da Silva, que, além de pilotar a lancha, precisa controlar os pequenos.
Além da questão da segurança, existe a da comodidade: o horário dos barcos é muito cedo, bem antes de as aulas começarem, necessitando que os alunos ribeirinhos madruguem para chegar a tempo de estudar. Também é preciso destacar que as condições de embarque não são favoráveis, principalmente em dias de chuva. “O acesso a essas escolas é quase sempre complicado. É difícil e custoso fazer o transporte escolar, os professores e a merenda chegarem. Os custos são muito mais altos do que a média de outras regiões”, analisa Nathalia Flores, da Fundação Amazonas Sustentável, em entrevista ao blog do Centro de Referências em Educação Integral.
(Fonte: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Fotos Públicas/Reprodução)
Como melhorar a mobilidade urbana sobre as águas?
O transporte hidroviário é pouco utilizado em todo o Brasil, mesmo com um potencial tão grande. As populações ribeirinhas mostram para o resto do país que as embarcações podem ser o cerne de toda a vida social. Um problema, entretanto, é que rios de regiões como Sul e Sudeste estão muito poluídos. “No futuro, quando houver a despoluição total desses rios, será possível também o transporte de passageiros”, analisa o engenheiro naval Carlos Padovezi, no Portal AECweb.
Já para as populações ribeirinhas, é preciso primeiro o seu reconhecimento. “O desenvolvimento planejado para a cidade tem muito mais o objetivo de promover a contemplação da cidade do que evidenciar os elementos que a identificam, pois realizam e compõem a interação cidade-rio, característicos de uma metrópole ribeirinha”, analisa Lauriene Barbosa de Araújo, em sua dissertação de mestrado do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pará.