As rotatórias foram criadas para melhorar a mobilidade urbana, oferecendo um trânsito mais fluido e seguro que os cruzamentos equipados apenas com semáforos. No entanto, na França essa solução de engenharia de tráfego tem sido utilizada como um espaço para exposição de obras artísticas.
Não existe uma informação oficial, mas uma estimativa realizada pelo blog Beyond the Maps, que utilizou dados do OpenStreeMap para calcular o número de rotatórias na Europa, sendo que, as vias francesas têm a maior quantidade de rótulas no continente. Apenas na França, foram encontradas 65 mil praças em forma circular onde os veículos giram em um único sentido.
Mas o centro desses círculos de tráfego não estão, em sua maioria, vazios ou preenchidos apenas com concreto ou algum paisagismo. Alguns desses espaços foram criados para valorizar obras artísticas, e outras que estavam sem utilização definida estão sendo transformadas em verdadeiras galerias de arte ao ar livre.
França e a arte na mobilidade urbana
A relação da França com a utilização da arte no desenho urbano existe há mais de dois séculos. A Praça de l’Étoile (rebatizada posteriormente de Place Charles-de-Gaulle), a mais célebre rotatória francesa, foi criada em 1848 dentro do plano modernizador de Paris, que consistia em amplas avenidas e boulevards.
No centro da praça, o Arco do Triunfo — um monumento de arquitetura neoclássica inaugurado em 1836 em comemoração às vitórias militares de Napoleão Bonaparte —, funciona como ponto irradiador de 12 importantes vias da capital francesa, entre elas a Champs-Élysées. A beleza inigualável e a importância histórica tornam o local ponto obrigatório de visitação turística.
A partir da década de 1970, elas ganharam mais popularidade. Desde então, as rotatórias se transformaram em uma espécie de paixão nacional francesa. Estima-se que o País construa entre 500 e 800 novos equipamentos deste tipo por ano, com um custo anual aproximado de 6 bilhões de euros. Um terço desse valor é dedicado a obras de arte no centro das rótulas.
Apesar disso, críticos questionam sobre a necessidade da “decoração” e até mesmo a própria praça circular como solução de mobilidade. Eles acreditam que as rotatórias e suas obras de artes degradam as paisagens e são custos desnecessários.
O rei das rotatórias
A relação entre a mobilidade e o mundo da arte é tão estreita que existem pessoas dedicadas exclusivamente a preencher os espaços vazios das rotatórias com obras artísticas. Um deles é Jean-Luc Plé, um ex-operário da fábrica da Renault que se transformou em escultor comercial. Ele é responsável por dezenas de peças por todo o país, e é descrito como o “rei das rotatórias”.
Seu método de trabalho inclui uma pesquisa com os prefeitos sobre a história da cidade para decidir qual escultura é a mais adequada para funcionar como um “cartão de visitas”. O artista faz suas peças de espuma de poliuretano que se desintegram caso algum veículo colida nelas. Cada obra custa entre 30 e 50 mil euros.
Desde seu primeiro trabalho, um “barril” em Archiac — a terra do conhaque de âmbar —, a criatividade é sua marca registrada. São esculturas de caramujos se olhando no espelho, mãos abrindo uma ostra, balão de ar gigante, entre tantas outras espalhadas pelo território francês.
Fonte: Le Monde, Bloomberg, Challenges.