Placemaking: por que a Cidade do México é referência no assunto?
Placemaking, que em tradução literal significa “criação de lugares”, é um movimento que, por meio de diversas técnicas, ambiciona criar espaços públicos que produzam bem-estar às comunidades. O conceito visa transformar os ambientes públicos em espaços que abracem a comunidade local, ofereça qualidade de vida e possa ser mantido pelas pessoas.
Origem do placemaking
A ideia surgiu na década de 1960, influenciada por autores como Jane Jacobs e William H. Whyte, que lançaram as bases para o que nos próximos anos se popularizasse como placemaking. O movimento conquistou arquitetos, planejadores urbanos, engenheiros, ambientalistas e entusiastas da cidade como obra de arte.
A visão desses autores era a de vizinhanças ativas que utilizassem espaços públicos acolhedores para desempenhar funções planejadas. Eles levavam em consideração as tradições locais e a mobilidade ativa, fugindo da cidade pensada apenas para carros e shoppings.
Um dos fundamentos do placemaking é o que torna um lugar em um bom espaço público é ele ser o centro de celebrações, de encontros, onde trocas econômicas e sociais possam ocorrer de forma que as pessoas sejam protagonistas.

O Projeto Para Espaços Públicos (PPS) é uma organização criada nos anos 1990 e que promove o placemaking ao redor do mundo. Com sua experiência, ao ver nascer e dar suporte a diversas comunidades nas mais variadas localidades, a PPS notou várias práticas comuns aos lugares bem-sucedidos e lançou as diretrizes para desenvolver um bom espaço público, melhorando a vida nas cidades.
Apesar de existirem diretrizes bastante amplas, a PPS resumiu em quatro as qualidades que diferenciam e elevam um espaço público, são elas: acessibilidade, conforto e estética, engajamento em atividades e sociabilidade.
Por que a Cidade do México pode ser referência em placemaking?

O jornalista Scott Beyer, fundador da The Market Urbanism Report, em viagem à Cidade do México, notou que vários dos parâmetros propostos pelo placemaking já acontecem lá de forma orgânica. As ruas e as calçadas amplas comportam um bom sistema de transporte e mobilidade urbana (particular e público), que favorecem o acesso a diversos pontos da cidade.
Muitos desses lugares são ancorados a pontos turísticos, históricos e arqueológicos, que são palcos de atividades recreativas ou cercados por extensos comércios formais e informais. Várias dessas localidades foram planejadas de alguma forma com longas linhas de árvores, arbustos, murais artísticos ao lado de pequenos comércios e espaços para se sentar.
Ao comparar o México aos Estados Unidos, Beyer notou que tanto na Cidade do México quanto em Nova York, os bairros ricos ofereciam condições mais próximas das ideais para o placemaking. A exemplo das calçadas amplas e em bom estado, muita cobertura de árvores e praças espaçosas que fornecem lugar para atividades e feiras locais.
Em compensação, os bairros pobres das duas cidades são similares nos problemas, com calçadas estreitas e precisando de manutenção, bem como esgoto e tráfego de carros improvisados, sem lugar para as pessoas.
Cidades por e para pessoas
Apesar de haver uma nítida diferenciação no potencial das localidades pelo poder econômico, o placemaking preconiza que isso não pode ser impeditivo na melhoria do espaço urbano. Em casos de omissão de autoridades, a comunidade pode fazer as transformações.
Uma solução nesse sentido foi o do projeto da praça Torino Stratosferica, em Turim (Itália). Mais de 700 residentes arrecadaram fundos em uma campanha virtual e transformaram uma estação de bonde abandonada em uma praça que oferecia espaços para sentar e um pequeno palco para apresentações.
Outro exemplo em uma região mais pobre é o do Campus Martius Park, em Detroit (Estados Unidos). Após o fechamento de uma série de indústrias, houve o abandono de uma grande área que ficou na conhecida por ser perigosa.
Um grupo de moradores querendo mudar a situação idealizou um parque. A partir daí, pessoas se apropriaram do espaço e começaram a utilizar a área para piqueniques, shows e filmes. Com a volta do movimento, vários pequenos negócios começaram a abrir na região e a oferecer serviços, assim revitalizando o local.
Fonte: Market Urbanism Report, UN Habitat, Arch Daily, Via, São Paulo São, Cidades.