Na madrugada desta quinta-feira (24/02), a Rússia iniciou uma invasão à Ucrânia. Os ataques vieram depois de o governo do presidente russo Vladmir Putin ter reconhecido as áreas separatistas de Lugansk e Donetsk como repúblicas independentes e oferecido ajuda militar contra o governo ucraniano.
Após alguns dias de esperança de que o confronto ficaria restrito àquelas regiões, a Rússia mostrou sua verdadeira intenção. Agora, tropas russas avançam rumo a Kiev, capital da Ucrânia, por vários pontos.
Além das perdas sociais, a condição geopolítica já tem impactado a economia, e a alta de preços é especialmente preocupante quando se fala em combustíveis. O Estadão Summit Mobilidade Urbana conversou com o professor João Alfredo Lopes Nyegray, coordenador do curso de Comércio Exterior e professor de Geopolítica e Negócios Internacionais da Universidade Positivo (UP), para entender como o confronto afeta o valor da gasolina. Confira.
A gasolina pode aumentar?
Sim. Para se ter uma ideia, com o conflito instaurado, o barril do petróleo já ultrapassou a marca de US$ 100 pela primeira vez desde 2014, quando os preços subiram devido à anexação da Crimeia pela Rússia. De acordo com Nyegray, o valor pode chegar à casa dos US$ 120, caso as invasões e os bombardeios continuem.
Vale lembrar que o aumento do preço do combustível fóssil tem consequências arrasadoras na economia mundial. Em 2021, eles subiram 49% no Brasil e foram os principais responsáveis pela alta inflação dos últimos meses. A dependência do petróleo por parte do agronegócio, que o utiliza em máquinas agrícolas e na distribuição dos alimentos pelo País, faz com quefaz que o valor dos alimentos também suba.
A corda bamba das sanções
O motivo central dessa avalanche econômica são as sançõessão sanções à Rússia. Com medo de um conflito generalizado que possa iniciar uma guerra de dimensões globais, os opositores de Putin planejam bloqueios comerciais ao país. A curto prazo, as sanções visam frear o avanço russo, mas servem também como pretexto para diminuir o desenvolvimento da nação como potência militar.
E onde entra o preço dos combustíveis? Ocorre que o nível de participação da Rússia na economia mundial pode fazer com quefazer que as sanções afetem a economia global, bem no período em que o mundo luta para se recuperar dos efeitos da pandemia de covid-19.
A Rússia é o maior fornecedor de gás natural da Europa, sendo imprescindível para o funcionamento do continente. Além disso, é o segundo maior produtor de petróleo e importante personagem na exportação de commodities como milho, trigo e soja.
Bloqueios impostos ao país afetariam, portanto, diretamente os preços desses produtos, e a exclusão da nação de sistemas de pagamento internacionais poderia prejudicar seus credores, em um verdadeiro efeito dominó.
Isolamento da Rússia
A Rússia parece ter se preparado para essa invasão. Há tempos, a estratégia econômica do país se baseia em diminuir a dependência da economia externa, por isso suas reservas de ouro têm aumentado, o número de transações atreladas ao dólar tem diminuído e a parceria com a China tem crescido.
Para Nyegray, é difícil precisar quanto tempo a Rússia aguentaria ficar isolada do mundo. “Por maiores que tenham sido os esforços russos para reduzir a dependência de mercados externos, nem a Rússia nem qualquer outro país é autossuficiente”, argumenta o professor.
Posicionamento do Brasil
A viagem de Jair Bolsonaro à Rússia e a nota tímida que o Itamaraty lançou sobre a invasão da Polônia colocam o Brasil do lado errado da história, na visão do especialista. Nyegray destaca que, por mais que o governo brasileiro esteja tentando proteger a relação com a Rússia, muito em razão da dependência dos insumos agrícolas que são importados de lá, nossas relações comerciais com os Estados Unidos e a Europa não são menos importantes.
De qualquer forma, a possível escalada de valores do petróleo e dos fertilizantes deve fazer com que os preços de combustíveis e alimentos no Brasil continuem subindo. Segundo Nyegray, as sanções “visam afetar a economia Russa, dificultando ou impondo embargos às exportações do país”, e a menor disponibilidade desses itens no mercado eleva os preços.
Fonte: João Alfredo Lopes Nyegray, coordenador do curso de Comércio Exterior e professor de Geopolítica e Negócios Internacionais da Universidade Positivo (UP).