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Urbanismo feminista: o exemplo de Viena no planejamento urbano

Pautas sociais podem se tornar o ponto de partida para transformações no âmbito da mobilidade urbana. É o caso do urbanismo feminista, conceito que transformou Viena, capital da Áustria, em uma das cidades com melhor projeto urbanístico do mundo. 

O conceito propõe trazer as pessoas de forma igualitária e democrática para o centro das discussões que envolvem o planejamento das áreas urbanas. A ideia é fazer com que todos desfrutem igualmente dos espaços em que vivem.

A base para essa proposta foi justamente a forma tradicional com que a maior parte das cidades foi projetada, pautada nas necessidades de homens de classe média (em geral, motoristas). Nessa visão, carros tornam-se centrais e outros atores, como mulheres, não são priorizados no espaço urbano.

Enquanto a vida urbana, incluindo vias e espaços públicos, foram ligados à masculinidade, ao trabalho e aos automóveis, mulheres ficaram restritas à vida doméstica em regiões residenciais. Nas cidades, elas acabavam sofrendo com a falta de acessibilidade e a insegurança.

Urbanismo feminista em Viena

Visão das mulheres tem influência na cidade pelo menos desde os anos 80 (Fonte: Pixabay)

Na década de 1980, a pesquisadora e planejadora urbana Eva Kail tomou iniciativas alemãs como inspiração para dar início a uma pesquisa que avalia a relação de mulheres com as cidades e entender a segregação de gênero em Viena. Oito representantes de origens e idades diferentes foram convidadas a compartilhar suas percepções.

Os resultados obtidos revelaram que homens eram “os donos do espaço urbano”: dois terços das viagens de lazer eram feitas por eles. Já no caso dos pedestres, sete em cada 10 eram mulheres. Dois anos depois da divulgação desses dados, Kail se tornou diretora do gabinete da mulher a partir de um convite feito pela Câmara Municipal.

Projetos que servem como inspiração

Espaços de lazer e convivência são igualmente desfrutados por diferentes moradores de Viena (Fonte: Pixabay)

Logo no início da sua gestão no órgão governamental, Kail deu início ao projeto do Frauen Werk Stadt (FWS). Em funcionamento até hoje, o que pode ser traduzido como “a cidade das mulheres trabalhadoras” é um complexo habitacional social, projetado e desenvolvido por mulheres e com apoio de representantes femininas no governo.

Entre 1995 e 1997, o complexo foi formado por blocos de edifícios e espaços verdes de acordo com a perspectiva das três arquitetas que o idealizaram. Varandas e janelas permitem a convivência e a observação da rua. Dessa forma, quem anda pelo lado externo pode ser visualizado e tem segurança garantida.

Localizado no distrito quatro, o Parque Alois Drasche une o contato com a natureza na trilha botânica, diversão para as crianças em brinquedos como balanços e casa na árvore, prática de esportes para jovens com quadras esportivas. Essas últimas foram, ainda, adaptadas e ampliadas ao se perceber que não estavam sendo tão aproveitadas por meninas.

Um projeto de 14 anos promete transformar o bairro residencial Aspern em um exemplo de inovação urbana até 2028. Com proximidade, planejamento de mobilidade própria e padrões de sustentabilidade por toda sua extensão, com estimativa de abrigar 20 mil pessoas. Além disso, todas as ruas da região são nomeadas com nomes femininos. 

Presente em rankings de cidades com melhor qualidade no mundo, a capital austríaca vem se tornando referência quando se trata de urbanismo há pelo menos quatro décadas. As melhorias constantes compõem uma projeção de futuro ainda mais positiva nesse sentido.

Fonte: Estadão

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