Durante a pandemia da covid-19, cidades do mundo todo abriram ruas apenas para pedestres e ciclistas, incentivando trajetos a pé e de bike. A medida foi comum em áreas centrais, mas não nas periferias. Isso levantou o questionamento: como tornar as ruas abertas mais igualitárias?
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O programa Ruas Abertas foi criado como resposta ao fechamento de locais de recreação populares, como parques e trilhas. O objetivo foi criar oportunidades para as pessoas permanecerem fisicamente ativas enquanto estavam socialmente distantes, reduzindo o excesso de velocidade nas ruas.
Em Oakland, na Califórnia (EUA), uma das primeiras cidades a adotar a medida, a adoção da prática teve cobertura de diversos jornais, mas nem toda a população compartilhou do mesmo entusiasmo.
Uma pesquisa revelou que os moradores ricos, brancos e sem deficiência estavam a favor do programa, enquanto pessoas negras, de baixa renda e com deficiência davam pouco apoio.
Seattle, no estado norte-americano de Washington, que também adotou o projeto, recebeu reclamações de que os sinais de fechamento das ruas fizeram alguns moradores de bairros historicamente negros se sentirem excluídos.
Em Los Angeles, também na Califórnia , no início da pandemia, bairros de brancos e ricos — onde os moradores trabalhavam de casa — desejaram a implementação das ruas abertas. Mas, em vez de reagir com uma implantação em toda a cidade, LA adotou uma abordagem diferente.
Seleta Reynolds, gerente geral do departamento de transporte de Los Angeles (Ladot), disse em entrevista ao Bloomberg que comunidades negras de baixa renda ainda permaneciam em trânsito.
“Eles eram os que estavam dirigindo mais, pois, ao perderem seus empregos no varejo e nas indústrias de serviços, caíram em empregos na economia compartilhada, onde dirigir em si era um trabalho”, ela explicou. A cidade então pagou organizações comunitárias para perguntar aos moradores dos bairros mais atingidos pela pandemia o que eles queriam.
Planejamento é a chave para as ruas abertas
A antropóloga Destiny Thomas, em entrevista ao Bloomberg, diz que para ajudar a construir a confiança desde o início, as cidades devem investir em pessoas que entendam as comunidades das cidades e aprender com as práticas de assistentes sociais, conselheiros e mediadores à medida que desenvolvem soluções eficazes.
“O que ainda falta é uma abordagem interdisciplinar e multidepartamental: não apenas perguntando o que fazemos com as ruas, mas investigando como tornamos as cidades e as comunidades mais saudáveis”, Thomas continuou. “Se mudarmos para esse foco, então nossas intervenções começarão a parecer um pouco diferentes”, ela finalizou.
No Brasil, um dos maiores casos de sucesso ligado ao conceito de ruas abertas é o de São Paulo. Na cidade, a proposta foi aplicada muito antes da pandemia, em 2016, e começou com o movimento Paulista Aberta. Nele, aos domingos e feriados, há atividades econômicas, culturais e de lazer na avenida, além de amplo espaço para a prática de exercícios físicos. Logo depois, isso se estendeu para outras ruas da cidade.
Fonte: Bloomberg, São Paulo.
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