Ouvir falar em êxodo urbano pode até causar estranheza! Afinal, estamos mais acostumados a ouvir o termo “êxodo rural”. Mas por que será que a expressão voltou à tona e como a pandemia de covid-19 pode ter acelerado esse processo?
Até a década de 1950, a maior parte da população brasileira morava nas zonas rurais. Entre as décadas de 1960 e 1980, o país passou por intensa industrialização e, com isso, a migração em direção às cidades foi a tônica. Esse movimento é conhecido como êxodo rural. Atualmente, quase 85% da população brasileira vive em zonas urbanas.
Um dos efeitos negativos do êxodo rural é que grandes parcelas da população precisaram fixar residência em áreas não preparadas para esse objetivo. Assim cresceu a marginalização, a especulação imobiliária e o crescimento desordenado das cidades.
A urbanização foi um efeito comum em praticamente todos os países industrializados ou em desenvolvimento. Assim, grande parte da população mundial vive concentrada em grandes centros urbanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que, em 2020, 56,2% das pessoas do mundo vivam em centros urbanos. O número deve chegar a 70% em 2050.
A superdensidade populacional que acontece nas grandes cidades causa uma série de efeitos nocivos para a saúde e a qualidade de vida. O alto nível de poluição (do ar e sonora), os longos tempos de deslocamento no trânsito, o aumento dos níveis de estresse e ansiedade, bem como a falta de segurança, estão entre os principais motivos citados por pessoas que buscam deixar as cidades.
O êxodo urbano é exatamente essa decisão de mudar de vida, sair dos “apertados” centros urbanos em direção a uma vida mais tranquila em áreas rurais ou em cidades menores. O movimento sempre ocorreu, mas em números bem menores do que no sentido contrário; entretanto, a pandemia causada pelo coronavírus pode ter acelerado esse processo.
Uma pesquisa do portal americano OfficeVibes mostrou que as tecnologias e a implementação de soluções de trabalho remoto em poucos meses, no início da pandemia, foram equivalentes ao desenvolvimento esperado para os próximos 10 anos. Muitas empresas que não planejavam adotar esse regime de trabalho precisaram se adequar para continuar funcionando.
No geral, o regime de home office ou anywhere office foi vantajoso para os dois lados. Funcionários citaram maior produtividade, menos estresse e maior controle de tempo; enquanto a maioria das empresas não teve perda na eficiência e economizaram com o aluguel e a manutenção de grandes estruturas físicas.
Com isso, alguns movimentos comuns foram notados globalmente. Por exemplo, cidades grandes e caras, como Nova York, viram empresas saírem de centros comerciais, deixando muitos imóveis vazios. Os trabalhadores também aproveitaram para buscar cidades menores e mais baratas ou até uma vida com mais viagens.
Resta saber se a tendência continuará crescendo ou se a situação deve se normalizará. Por ora, é nítido que, principalmente no Brasil e em países em desenvolvimento, o movimento de êxodo urbano é restrito a uma parcela da população. Pessoas que têm a possibilidade de trabalhar em regime remoto e que reúnem condições de adquirir ou alugar imóveis em outras cidades ainda são uma parte pequena e privilegiada da população.