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Como a covid-19 estimula o transporte individual

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A covid-19 tem provocado modificações profundas no cotidiano das pessoas. Estima-se que um terço do planeta esteja em isolamento social. Escolas, universidades, empresas, órgãos públicos: todos os setores mudaram profundamente o funcionamento.

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E, assim como a H1N1 deixou como herança o hábito de se lavar mais as mãos e usar álcool em gel com frequência, é provável que novos hábitos adquiridos diante da pandemia atual sejam ainda mais duradouros, inclusive no campo da mobilidade.

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É fácil compreender por que a mobilidade se torna uma das áreas com mais impacto. O modelo urbano da maior parte das cidades, sobretudo das capitais, assume o seguinte padrão: nos bairros mais centrais se concentram as principais lojas e escritórios, ao passo que a residência das pessoas que trabalham nesses locais fica em bairros residenciais afastados. Nesse sentido, a forma como elas se locomovem ganha ainda mais importância.

Transporte público

(Fonte: Shutterstock)

O Brasil, assim como outros países, apresenta um paradoxo no campo dos transportes: a maior parte dos trabalhadores urbanos, em regra, recebe salários modestos e não possuem carro — ou, caso tenham, não o adotam como ferramenta de mobilidade cotidiana. Afinal, estão envolvidos aspectos como custos, congestionamento etc.; ao mesmo tempo, ainda é o veículo particular, e não ônibus, metrô, trem e bicicleta, que estrutura o modelo viário urbano.

Transporte individual em foco

Quando ocorrem problemas graves que exigem medidas mais drásticas de contenção na interação social, como a covid-19 impõe neste período, a malha de transporte coletivo se mostra incapaz de oferecer soluções atrativas à maior parte das pessoas que precisam organizar os trajetos diários. E fica evidente, nesse momento, como a falta de uma aposta estratégica em outros modais pode cobrar um preço caro.

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Um bom exemplo disso é que, em diversas capitais, que tendem a possuir as melhores redes de transporte coletivo, percebeu-se uma diminuição no fluxo de ônibus: em vez de aumentar a circulação ou manter o horário convencional, para que cada veículo operasse com menos passageiros e houvesse espaço entre eles, o que se viu foi uma diminuição da frota e ainda mais pessoas disputando espaço dentro dos coletivos.

Os empresários do setor alegam que não há margem financeira para outra decisão e o Poder Público das cidades, até o momento, não apresentou uma política que redimensione a importância desse tipo transporte, que exige um planejamento com mais comprometimento.

Isso se torna ainda mais grave porque, segundo especialistas, a covid-19, terá um ciclo mais lento que outras pandemias, como a H1N1. Em 2009, quando essa doença se espalhou pelo mundo, havia uma taxa de transmissão menor, com menos letalidade (é o que se estima, apesar de a subnotificação impedir um cálculo exato) e com medicações funcionais no combate aos efeitos do vírus ainda durante a curva da pandemia, como o Tamiflu.

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Já o vírus atual se espalha facilmente, apresenta grande letalidade e os testes de medicação e vacinas ainda levarão algum tempo para dar respostas aplicáveis ao conjunto da população mundial.

Em virtude disso, é possível que se tenha atualmente alguns fluxos de quarentena, intercalados com afrouxamento do isolamento, de acordo com o monitoramento epidemiológico.

Ou seja, o novo coronavírus pede uma solução de médio e longo prazos para diversos assuntos, inclusive quanto à mobilidade. E, na ausência de uma política pública que dê conta disso, as pessoas que podem voltam a investir em veículos próprios, na contramão das necessidades sociais e ambientais das cidades.

Carro delivery?

(Fonte: Shutterstock)

Por ser o primeiro foco da doença, com a maior população do mundo, e ter um Estado centralizador com políticas firmes, a China pode ser um bom laboratório para se entender as mudanças que a covid-19 acarreta. E, segundo a Ipsos, agência internacional de pesquisa presente em diversos países, já há tendências visíveis.

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No aspecto da mobilidade, os dados mais relevantes apontam para o desejo de comprar veículos, em virtude da falta de confiança inspirada pelo transporte coletivo. E, como os veículos são um bem de médio e longo prazos, é provável que essa decisão fomente uma nova injeção no modelo centrado no carro.

Além disso, as pessoas tenderão a inserir os contatos digitais na sua rotina: as plataformas de conversas e interações por áudio e vídeo tendem a permanecer no repertório dos cidadãos comuns, seja para contatar familiares, resolver problemas do trabalho, estudar ou cuidar da saúde, em teleconsultas.

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Essas tendências já se expressam no Brasil. Em um dos maiores portais de venda online de veículos, que relata ter o maior número de veículos cadastrados no Brasil, já existe até mesmo a possibilidade de escolher um carro e recebê-lo em casa, tal como se faz hoje com compras de farmácias, restaurantes e supermercados.

Fonte: BBC, Ipsos.

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