Os moradores de Teresina, capital do Piauí, têm enfrentado uma prolongada crise no transporte público da cidade. Desde março de 2020, foram oito greves e inúmeras paralisações por parte dos trabalhadores do sistema.
Desde então, o município não conta com qualquer ônibus circulando pelas ruas de forma regular, e o serviço de transporte coletivo é feito por vans e micro-ônibus sem fiscalização. A alternativa de transporte opera sem condições de higiene e foge de qualquer recomendação dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar a proliferação do coronavírus.
Histórico da paralisação do transporte coletivo
Apesar da pandemia ter colaborado para o agravamento da crise no transporte público de Teresina, os problemas são de longa data. Em 2008, a Prefeitura lançou o primeiro Plano Diretor de Transportes e Mobilidade Urbana do município, com promessas de implantar um sistema moderno com integração dos transportes da cidade até 2015. No entanto, o plano acarretou uma crise financeira.
O modelo, inspirado no sistema de ônibus de trânsito rápido (BRT) de Curitiba, contou com um orçamento de R$ 460 milhões em obras. Na época do anúncio do projeto, protestos da população alegavam que o novo sistema geraria impactos ambientais e desperdiçaria dinheiro público, sem resolver o problema da mobilidade urbana na região.
Desde então, Teresina passou a ter uma das tarifas de ônibus mais caras entre as capitais do Norte e do Nordeste — chegando a R$ 5,05 em 2021. Porém, isso não foi o suficiente para manter a frota com a manutenção em dia, tampouco os direitos e os benefícios dos funcionários do sistema de transporte da cidade.
Auditoria de contratos
Em 2014, a Superintendência Municipal de Transportes (Strans) definiu que o mesmo consórcio de empresas que já administrava o transporte coletivo da cidade continuaria responsável por comandar as operações.
Em março deste ano, o Ministério Público do Piauí (MP-PI) solicitou uma auditoria dos contratos em vigência no transporte coletivo de Teresina. Segundo o órgão, o objetivo da auditoria é verificar os contratos firmados pelo poder público da capital e as concessionárias de ônibus, para avaliar os pontos que têm atrapalhado o equilíbrio financeiro do sistema.
De acordo com um comunicado oficial do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano (Setut, um dos fatores que causam o desequilíbrio de contas é a quantidade de gratuidades aplicadas pelo município. No relatório, o Setut mostrou que 44% dos usuários de transporte público teresinenses são isentos de tarifas, o que faz a cidade deixar de arrecadar R$ 3 milhões por mês.
Sem aporte de recursos da União e com os efeitos da crise gerados pela pandemia de covid-19, o vice-presidente do Setut, Marcelino Lopes, destacou que não é contra as medidas de gratuidades e meia-passagem, mas que elas têm corroborado com o agravamento da crise — até então, sem fim previsto.
Fontes: Mobilize, GP1, Diário do Transporte