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Urbanismo: por que é difícil estruturar cidades policêntricas?

Quem se dedica à análise das políticas de urbanismo das grandes cidades sabe que a estrutura urbana padece de um mal bastante comum: a maioria delas tem caráter monocêntrico, e em torno de um pequeno território orbita a vida de milhões de pessoas.

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Isso gera problemas estruturais graves, a exemplo do que ocorre na mobilidade. No centro expandido dos maiores centros urbanos trabalha a maior parte da população, cuja residência se localiza na periferia. Por isso, um fluxo enorme de pessoas precisa se deslocar no mesmo sentido ao mesmo tempo por longas distâncias, o que, paradoxalmente, torna a mobilidade ativa cada vez mais necessária e menos comum.

Se especialistas e gestores públicos reconhecem que esse é um problema, por que há tanta dificuldade em adotar modelos policêntricos? Conheça mais sobre as razões pelas quais as cidades permanecem sendo monocêntricas mesmo com o esforço em reduzir esse padrão.

Todos ganham?

Distribuição do espaço urbano é marcada por desigualdades sociais. (Fonte: Shutterstock)

A expressão “A cidade é viva” parece fazer sentido no embate entre esses dois modelos, e os esforços no sentido de torná-la policêntrica têm se mostrado infrutíferos. É como se, a despeito da orientação do Plano Diretor, a cidade fosse “ingovernável”.

Essa dificuldade chama atenção porque, em princípio, trata-se de uma tendência em que todos ganham: os aluguéis centrais ficam menos caros, os comércios têm demanda maior, os congestionamentos tendem a ser reduzidos, as pessoas ganham qualidade de vida. Então o que está por trás dessa dificuldade?

Para o especialista Alain Bertaud, que foi urbanista chefe do Banco Mundial e já atuou em diversos continentes, o problema está na forma como a economia do trabalho se estabelece.

O que esperar da micromobilidade no pós-pandemia?

Quando os contratantes escolhem um trabalhador, não levam em conta seu local de residência. Interessa à organização que esse profissional seja eficiente, mas em geral não há preocupação com a variável moradia.

Isso é reforçado pelo fato de haver mão de obra excedente para a maior parte dos postos de trabalho, o que faz com que a concorrência por emprego seja benéfica ao empregador. Exceto para vagas muito especializadas, em casos excepcionais, há enorme competição para ocupá-las — mesmo antes da pandemia, os desempregados no Brasil passavam da casa dos 10 milhões.

Além disso, esse movimento interessa a setores que vivem da especulação imobiliária, como grandes conglomerados da construção civil. Isso ocorre sobretudo diante de uma lacuna de políticas públicas de habitação, fenômeno que torna a definição do uso do solo urbano um negócio como qualquer outro nas cidades.

Parece… e é

Movimentos sociais com moradia no centro da sua agenda estão entre os que mais crescem no Brasil. (Fonte: Shutterstock)

“O que leva as corporações a parecerem maiores que os governos é que elas são maiores que os governos.” A frase extraída do documentário História das Coisas aborda a dificuldade de criar cadeias sustentáveis em um mundo em crise ambiental e se aplica ao rumo do planejamento urbano.

Mais do que os limites das cidades policêntricas, o que está em jogo são os limites do Estado e da sociedade civil. Mesmo diante da indicação sobre o melhor caminho a se traçar coletivamente, ainda não se descobriu uma fórmula que garanta o cumprimento dessa agenda diante dos interesses privados. Por isso não apenas bairros mas cidades inteiras são criadas e sustentadas como “dormitórios”: milhões de pessoas que residem nelas passam seus dias nos condensados centros urbanos.

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Reconhecer a fragilidade desse contexto é importante porque, além de ser um problema de planejamento e de mobilidade, o que está em foco é a forma como a sociedade decidirá nos próximos anos a governança do espaço público. Cidades menos concentradas dependerão da capacidade de democratizar a tomada de decisão.

Uma boa saída pode ser criar mecanismos de incentivo às empresas que empregam pessoas do seu entorno, por exemplo. Afinal, há custos objetivos aos cofres públicos causados pelo deslocamento sem necessidade: mais poluição, mais problemas de saúde, mais creches, mais demanda por estrutura viária e subsídio de transporte coletivo, entre outros impactos.

Fonte: Caos Planejado

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