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Como a covid-19 aumentou a desigualdade socioespacial

A desigualdade socioespacial é uma constante nas maiores cidades do mundo. Em São Paulo, isso não é diferente: ela é facilmente percebida na forma como o território é ocupado.

Durante a pandemia, esse problema se intensificou. O imperativo do isolamento social – ainda a melhor forma de prevenir a covid-19, enquanto a vacina não gerar imunidade de rebanho – não foi possível para quem precisava ir às ruas para trabalhar ou mesmo quem não possui acesso à moradia. Em grande medida, pessoas em vulnerabilidade econômica foram as responsáveis para que outras pudessem ficar em casa.

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Para debater esses impasses, o Estadão Summit Mobilidade conversou com membros do apê mobilidade, grupo de estudos sobre mobilidade urbana, que atua na cidade de São Paulo desde 2012. Confira o balanço das arquitetas, urbanistas e pesquisadoras Carolina Barreiros e Júlia Anversa.

São Paulo está entre as 10 cidades mais ricas do mundo. No entanto, é um espaço marcado por desigualdades. O que explica isso?

A diferença de acesso e de oportunidades. Quando uma cidade está entre as mais ricas do mundo e vemos grandes áreas de habitação sem condições básicas de saneamento, bairros com ruas sem pavimento, sem calçadas e pontos de ônibus, sem espaços públicos ou áreas verdes para usufruto de lazer, falamos numa riqueza que só poderá estar causando a própria desigualdade e não de uma riqueza saudável e distribuída.

A variação do preço da terra explica a forte segregação espacial urbana. E a desigualdade de investimento em serviços, cultura e infraestrutura comparando centro e periferias, reforça a extrema discrepância de acesso à educação, saúde e empregos de qualidade.

Residir em São Paulo pode significar experiências profundamente desiguais, a julgar pelo espaço a partir do qual se acessa a cidade. (Fonte: Shutterstock)

Então a estrutura da cidade cria desigualdades?

Sim. Quem não tem possibilidade para comprar ou alugar algo regularmente é forçado a se deslocar para partes muito afastadas da área central ou a ocupar de forma irregular zonas que não estariam em boas condições para receber habitação. A regulamentação das áreas da cidade por valor determina a segregação socioespacial. 

Além disso, a estrutura social reforça desigualdades no campo do trabalho, por exemplo. Os bairros ricos mais centrais exigem, por construção social de séculos, o trabalho diário de mão de obra barata, de trabalhadoras/es que precisam se deslocar várias horas para que possam manter os empregos. 

A oferta de educação e cultura também é um fator de desigualdade espacial. Por exemplo, só em 2005 foi aberto o pólo leste da Universidade de São Paulo (USP). Até essa data todas as faculdades públicas se localizavam na zona oeste e central da cidade. 

Como esse cenário foi impactado pela pandemia?

Algumas cidades repensaram medidas sobre espaços de circulação adaptadas às novas regras de segurança, mas essas mudanças exigem uma prontidão e um nível de investimento que em muitos locais praticamente não existiu, a exemplo de São Paulo.

Muitas pessoas continuaram dependendo do deslocamento para conseguirem garantir seus postos de trabalho. Isso inclui profissionais de saúde, serviços de entregas, de limpeza, de comércio e postos fabris.

Por isso, as mesmas pessoas que dependiam de transporte público e que já sofriam com a falta de oferta e sobrelotação, seguem tendo que enfrentar problemas semelhantes durante a pandemia. Por outro lado, quem mora perto do trabalho ou pode fazer apenas deslocamentos de lazer, prefere caminhar ou usufruir de outro tipo de mobilidade ativa.

Essa poderia ser uma oportunidade para repensarmos as cidades, os espaços livres mais adequados à saúde da população, a qualidade de oferta de transportes públicos e reconsiderar o modelo rodoviarista que impera na maioria dos meios urbanos. 

A cidade entra em 2021 mais desigual?

A pandemia não inaugurou a desigualdade nas principais cidades brasileiras, mas demonstrou a assimetria no acesso a serviços e oportunidades. (Fonte: Shutterstock)

Sempre que a situação econômica se agrava, como está acontecendo neste momento, a tendência é sempre sair mais prejudicado quem já sofria e já tinha menos privilégios. É uma consequência do sistema em que vivemos. Em todo o mundo, tem sido observado um aumento da desigualdade, com concentração de renda cada vez maior entre os poucos bilionários em detrimento da distribuição de recursos para a ampla maioria da população. 

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Além disso, vive-se uma crise na área da saúde e já há várias pesquisas que mostram que o impacto da pandemia nas periferias foi muito mais devastador do que nos bairros mais ricos. Então, com certeza a cidade sairá mais desigual, principalmente confirmando a falta de políticas públicas de enfrentamento da pandemia e a degradação contínua dos direitos trabalhistas. 

Como planejar uma cidade com a complexidade de São Paulo de forma a diminuir suas desigualdades?

Há pontos que poderiam causar mudanças positivas no combate à desigualdade socioespacial, como o desenvolvimento focado nos bairros mais periféricos, oferta de serviços e empregos a curtas distâncias de onde as pessoas vivem, distribuição de equipamentos públicos de qualidade para educação, saúde e cultura, com acesso mais fácil e prestando serviços atentos à diversidade de suas realidades locais. 

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Por outro lado, especialmente na região central, tem-se a questão da habitação, com um número alarmante de pessoas vivendo em situação de rua, muitas que inclusive devem chegar a essa condição como consequência do aumento da pobreza. 

Não devemos nos esquecer de que a região com melhor infraestrutura da cidade também concentra imóveis que não cumprem sua função social, em número até maior do que o de pessoas em situação de rua, e combater a desigualdade passa por garantir condições dignas de moradia. 

Já conhece o Estadão Summit Mobilidade Urbana? Saiba o que rolou na última edição do evento.

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