Qual é o caminho para cidades inteligentes mais igualitárias?

17 de janeiro de 2021 4 mins. de leitura

A tecnologia pode beneficiar muito a população de uma cidade, mas apenas o fator humano as tornará mais justas e menos desiguais

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O conceito de smart city (ou cidade inteligente) tem dominado as reflexões sobre planejamento urbano, principalmente na última década. Embora a teoria seja inclusiva, a desigualdade se faz presente em boa parte das iniciativas, como explica a pesquisadora Teresa Cristina M. Mendes, do Observatório das Metrópoles.

No artigo Smart Cities: Solução para as cidades ou aprofundamento das desigualdades sociais?, Mendes explica que, em muitos casos, os habitantes são definidos como meros consumidores das soluções tecnológicas, principalmente nos países menos desenvolvidos. 

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Para a autora, os caminhos de como integrar as tecnologias às cidades pensando na solução de seus problemas poderão vir a diminuir ou aumentar as desigualdades socioeconômicas, isso vai depender dos modelos de implantação.

No texto, Mendes explica que, de modo geral, uma smart city “é uma cidade que, por meio de uma visão holística, multidimensional e multiparticipativa e com o uso intensivo de recursos tecnológicos, é capaz de promover um crescimento inclusivo e sustentável, com a maximização da eficiência na alocação dos seus recursos, visando a melhor qualidade de vida da sua população”. 

“O uso de tecnologias digitais e consequente geração extraordinária de dados possibilitariam estratégias mais eficientes de gestão, com maior rapidez de respostas (muitas vezes em tempo real)”, ela completou.

Para que as cidades sejam pensadas de forma mais igualitária, diferentes setores da sociedade precisam participar do debate. (Fonte: Shutterstock)
Para que as cidades sejam pensadas de forma mais igualitária, diferentes setores da sociedade precisam participar do debate. (Fonte: Shutterstock)

Entretanto, o maior problema é que o setor privado sempre esteve à frente da maior parte das iniciativas nos últimos anos. Para que as cidades sejam pensadas de maneira mais humana e igualitária, existe a necessidade de maior engajamento de outros atores, como planejadores urbanos, líderes municipais, academia, empresários inovadores e start-ups.

A pesquisadora lembra que os cases de smart cities de sucesso geralmente são de cidades europeias, que já contavam com uma elevada qualidade de vida antes mesmo da implementação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Cidades com alto padrão de renda, economia dinâmica, expressiva participação democrática e de gestores públicos comprometidos com a administração urbana. 

“A depender do modelo escolhido para implementação de uma smart city, a mitigação dos problemas urbanos poderá beneficiar toda a população ou apenas uma parcela dela. Isso implica não deixar exclusivamente nas mãos das grandes corporações a definição dos recursos tecnológicos a serem utilizados e as soluções decorrentes deles, caso se deseje, genuinamente, a inclusão social”, ela defendeu.

Criação comunitária

Uma cidade não pode ser considerada inteligente se o acesso à tecnologia não existir para todos. (Fonte: Shutterstock)
Uma cidade não pode ser considerada inteligente se o acesso à tecnologia não existir para todos. (Fonte: Shutterstock)

Para Alexandros Washburn, ex-diretor de Urbanismo da cidade de Nova York e professor no Stevens Institute of Technology, uma cidade é uma criação comunitária. Em seu artigo Smart Cities: a promoção da desigualdade?, publicado no site ArchDaily, ele explica que nem todas as decisões sobre o funcionamento de um município podem ser delegadas à tecnologia, principalmente aquelas relacionadas à governança. 

“A aplicação imediata da tecnologia inteligente eliminará enormes ineficiências, das quais todos deveriam se beneficiar. Mas, eventualmente, essas ineficiências coletivas serão superadas, e os ganhos individuais exigirão que outros sofram perdas individuais”, alertou Washburn.

Coesão social

Washburn lembra que a desigualdade de algoritmos já existe entre aqueles que têm um smartphone e plano de dados, e quem não tem. “Isso é justo? Qual é o custo que essa desigualdade impõe a uma cidade? Custa uma corrosão da coesão social baseada na cidadania igualitária?”, ele questionou.

Para o professor, muito mais do que qualquer tipo de modelagem computacional complexa, a coesão social é o pilar da resiliência de uma cidade. “Certamente, uma cidade que diminui a coesão social através da tecnologia não pode ser chamada de inteligente”, alegou o ex-diretor.

Para que as smart cities não se tornem cidades desiguais, não podemos abdicar de nossas responsabilidades sociais para tomar decisões cívicas. “Cidades inteligentes tomam melhores decisões. Porém, as smart cities que também são democráticas tomam as melhores decisões quando permitem aos cidadãos debaterem vigorosamente a linha correta de ação e, em seguida, deixam a tecnologia executar corretamente”, concluiu o professor.

Fontes: ArchDaily Brasil e Observatório das Metrópoles.

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