Você já deve ter ouvido a seguinte expressão: “se a vida der limões, faça uma limonada”. A criatividade pode ser a diferença entre enxergar um problema ou uma oportunidade. Isso vale para o setor de mobilidade urbana, que pode encontrar formas de energia pela chamada economia circular.
Por meio desse conceito, considera-se o resíduo gerado na produção de itens para alimentar outros ciclos produtivos. Assim, em vez de um passivo ambiental, passa-se a ter um ativo.
No caso da mobilidade urbana, isso se aplica principalmente à questão energética. Um dos maiores desafios do setor é oferecer respostas eficientes a cidades cada vez maiores e mais complexas sem, no entanto, fazer o uso de matrizes poluentes, como a queima de combustíveis fósseis.
O potencial da economia circular na mobilidade
Em diversas áreas, a economia circular já é aplicada de forma a gerar renda e transformar problemas ambientais em soluções para demandas humanas que não agridam o meio ambiente. Um exemplo é a cevada que resta da produção de cerveja e pode se tornar ração animal.
Segundo Gustavo Bonini, diretor de Relações Institucionais e Governamentais da Scania e vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), já existem momentos em que a economia circular pode auxiliar na solução de problemas da mobilidade urbana, e o principal exemplo vem da Suécia.
Em Estocolmo, capital do país nórdico, o lixo e o esgoto residencial se transformam em biometano, capaz de abastecer veículos e prover gás de cozinha. Segundo Bonini, que estuda soluções do setor, o excedente do biocombustível é vendido para movimentar a frota de ônibus da cidade.
Além da vantagem ambiental, existem benefícios financeiros interessantes. Em primeiro lugar, pela geração de empregos. A transformação dos resíduos tem o potencial de criar uma indústria permanente de beneficiamento que pode atender à demanda local e exportar tanto os produtos como a tecnologia empregada.
Não é de hoje que a Suécia se destaca em relação à mobilidade. Estocolmo é pioneira no conceito de Visão Zero e alguns dos encontros das Nações Unidas sobre mobilidade urbana são hospedadas pela capital sueca em razão do protagonismo em políticas desse setor.
Necessidade de uma aposta estratégica
Outro benefício citado por Bonini é que, com o uso desses resíduos, deixa-se de depender de combustíveis lastreados por variações externas, como ocorre com o petróleo.
No entanto, isso exige que ocorra uma aposta estratégica por parte do poder público, a qual deve ser considerada um investimento. A oscilação do barril do petróleo não é apenas um fator que interfere na economia global (em 2019, os barris chegaram a US$ 70 e passam por um novo crescimento histórico), como também está no centro da política de Estado de diversos países.
Por trás da questão energética, também está a soberania dos países, que, no caso brasileiro, ganha ainda mais importância. Com proporções continentais, ferrovias e hidrovias incipientes, o abastecimento de uma população com mais de 200 milhões de pessoas depende diretamente do modal rodoviário, que ainda tem na queima de combustíveis a sua energia principal.
O que falta para o Brasil apostar em energia circular?
Segundo Bonini, apenas na Grande São Paulo os aterros recebem lixo de mais de 22 milhões de pessoas todos os dias. Portanto, há matéria-prima disponível que poderia ser usada na geração de emprego e renda, com o benefício de resolver problemas ambientais.
Soma-se a isso um outro custo: de acordo com o diretor, a poluição causada pela frota baseada em matrizes custa mais de R$ 60 bilhões por ano aos cofres públicos. Portanto, é fundamental que o Estado incentive fontes energéticas e limpas, com potencial para resolver problemas sociais.
Ainda para ele, o setor privado espera que o Estado seja capaz de traçar metas e gerar incentivos para que tanto empresas quanto sociedade civil se organizem na busca de soluções frente a isso.
“Não é atribuição dos governos escolher a melhor tecnologia na transição entre os dois modelos, mas fixar metas de redução de emissões e deixar o setor privado disputar quem vai entregar a melhor tecnologia com o menor custo”, concluiu Bonini.
Fonte: Trending View, Alacip, Fiemg, Mobilidade Estadão.
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