Pelo menos 111 milhões de pessoas vivem em aglomerações não planejadas, como favelas, na América Latina, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU Habitat). Isso é resultado de um histórico de dinâmicas político-sociais que estrutura privilégios que ainda perduram.
Grande parte das cidades latino-americanas cresceu mais rápido do que a capacidade de gerar uma infraestrutura adequada. Por isso, o território é marcado por uma forte segregação socioespacial, com uma distribuição ineficiente dos serviços públicos e privados, que impõem desafios urbanos, sociais e ambientais.
A falta de planejamento urbano na região segue mantendo os paradigmas de concentração de recursos em poucos locais, enquanto grande parte do tecido urbano está excluído dos planos de desenvolvimento. No entanto, existem projetos que conseguem mostrar possibilidades de caminho para uma maior equidade nas cidades da América Latina.
Dinâmicas de segregação socioespacial
Apesar das interações culturais intensas e falta de semelhança entre si, os diferentes processos históricos dos países na região apresentam semelhanças. A segregação socioespacial na América Latina tem origem em uma lógica “hereditária”. Desde o início da colonização, a fragmentação do espaço vem sendo justificada por fatores étnicos.
Por um longo período da história, o continente foi visto apenas como fonte de recursos naturais e rurais. Até mesmo as aglomerações pré-coloniais, como Tenochtitlán (México) ou Cusco (Peru), foram aproveitadas para validar o processo conquistador, com um novo planejamento urbano que refletia a ordem social, política e econômica.
Outros espaços foram ocupados pelos colonos europeus guiados pelo potencial de exploração econômica de recursos naturais, gerando núcleos urbanos de acordo com a produção e o escoamento de riquezas. E, mesmo que houvesse interação étnica nas cidades, diversos delineamentos foram praticados para diferenciar socialmente os habitantes.
Exemplos positivos na América Latina
Apesar do processo consolidado, diversas cidades estão conseguindo realizar ações para promover uma maior equidade entre seus habitantes. Cada local tem problemas e soluções próprias, mas a mobilidade urbana é um ponto-chave para a adoção de estratégias que diminuem a desigualdade socioespacial.
Medellín (Colômbia)
Medellín é um dos exemplos mais icônicos de processo de inclusão e transformação urbana no continente. Projetos que elevaram a qualidade dos espaços públicos conseguiram resultados práticos, como a redução da taxa de homicídios em cerca de 70%.
A cidade colombiana investiu em equipamentos públicos de educação, ampliou o acesso à mobilidade, conseguiu levar a presença do Estado para a periferia, além de valorizar os espaços urbanos com elementos da cultura e história local.
Piura (Peru)
Em uma década, a cidade peruana planeja investir US$ 2 bilhões em um Plano Diretor de Mobilidade Urbana Sustentável. A partir das necessidades urbanas, priorizou seis projetos que utilizam o transporte urbano como eixo estruturante. Também foi adotado o conceito de “ruas completas”, que irá oferecer espaços, serviços mais equitativos, inclusivos e sustentáveis.
David (Panamá)
A região de David, que envolve municípios vizinhos que totalizam mais de 300 mil habitantes, está executando um Plano Integral para a Mobilidade Urbana Sustentável para reduzir distâncias e tempos de viagem, reduzir o uso de veículos privados e incentivar a utilização de transporte público, bicicleta e caminhada, de modo a reduzir a poluição e o número de vítimas em acidentes de trânsito.
Fonte: Archdaily, Estratégia ODS, Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).