Desde 2009, quando ocorreu a pandemia de H1N1, é comum encontrar álcool em gel disponível para uso em lanchonetes e restaurantes. Da mesma forma, mais lavabos e áreas de circulação de ar podem estar entre as modificações que a covid-19 trará para o futuro.
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O modelo de cidade que se conhece hoje é profundamente marcado por outras transformações demandadas por doenças, boa parte delas com potencial de impacto semelhante ao das pandemias — a classificação se refere a uma doença que se espalha em ao menos três continentes e com contaminação comunitária, em que o serviço epidemiológico não consegue monitorar as fontes.
O que define surto, epidemia ou pandemia?
Cada vez mais urbano, o modo de vida ocidental teve na medicina e em outras áreas de cuidado em saúde, como a enfermagem, um apoio fundamental para a transformação da vida de uma população que vivia apinhada, sem saneamento básico ou métodos satisfatórios de higiene.
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Nas cidades criadas a partir do declínio das propriedades feudais, as doenças se proliferavam com enorme rapidez. Mesmo reis e nobres eram acometidos por enfermidades que, se hoje são consideradas superadas, à época dizimavam facilmente um enorme contingente populacional.
Mais do que qualidade de vida, pode-se dizer que as medidas sanitárias de então contribuíram para a consolidação de polos mais dinâmicos, complexos e interligados. Por isso, vale a pena conhecer um pouco mais sobre o processo histórico de doenças que, por demandarem grandes transformações, deixaram suas marcas no arranjo urbano atual.
1. A primeira vacina e as cidades modernas
O caso da varíola ilustra bem como as cidades eram um centro de proliferação de doenças e como a medicina permitiu a consolidação do convívio humano condensado, próprio do modelo urbano.
O médico inglês Edward Jenner percebeu, de forma pioneira, que mulheres que lidavam com vacas não eram acometidas pelos sintomas da doença. Com isso, concluiu que esses animais eram capazes de produzir resistência à enfermidade e que seria possível imunizar as pessoas. Assim, foram feitos testes e foi criado o primeiro experimento próximo do que são as vacinas contemporâneas.
2. A Grande Peste e o esgoto subterrâneo
Considerada a maior doença da história, a Grande Peste matou cerca de 50% da população das cidades então conhecidas na Europa e na Ásia. A partir de uma ossada encontrada no Gabão, na África Central, há indícios de que a condição chegou até a África Subsaariana.
Doenças de cunho sanitário do tipo foram muito comuns até que o ser humano optasse por um modelo subterrâneo de rede de esgotos. Por muito tempo, os dejetos eram quase sempre jogados nas vias, ao mesmo nível de onde se andava a pé e a cavalo.
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Isso é tão decisivo que basta pensar que se estima que Nova York seja hoje a cidade com maior número de ratos do planeta, e as doenças causadas por esses animais estão longe de serem problemas comparáveis à Grande Peste.
3. As moradias e a tuberculose
A qualidade de vida faz bastante diferença na saúde. O modelo social, a estrutura de moradia e a capacidade de acessar serviços interferem diretamente nisso.
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Em seu modo mais recorrente, a tuberculose pode ser adquirida por exposição contínua a pessoas infectadas; é por isso que em moradias pouco divididas e muito pequenas o contágio é maior. Nesse sentido, a segmentação das residências em mais cômodos, com corredores de acesso e melhor ventilação, no início do século 20, ajudou a reduzir esse tipo de contaminação.
4. A Revolta da Vacina e a gentrificação
Uma das principais transformações urbanas ligadas a questões de saúde pública está relacionada à chamada Revolta da Vacina, de 1904. Em 1903, o médico Oswaldo Cruz assumiu a Diretoria Geral de Saúde Pública, no Rio de Janeiro, e um de seus objetivos era promover o saneamento da cidade e erradicar a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Ele tornou a vacinação obrigatória, gerando confusão em um período histórico conturbado e marcado por transformações.
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Em um momento pautado no higienismo, que enxergava moradias precárias como foco de doenças, foram feitos despejos, destruição de moradias e alargamento de ruas, excluindo do centro da cidade os setores sociais precarizados. Aumentou-se, assim, a especulação imobiliária e o processo de gentrificação, em que a população mais pobre passou a ocupar espaços periféricos com ainda menos infraestrutura.
Fonte: Revista Brasileira de Epidemiologia, Ministério da Saúde.
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