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Ciclomobilidade ajuda a empoderar mulheres negras e periféricas

Mulher sorrindo andando de bicicleta com capacete

Embora possa abrir possibilidades de experienciar o espaço urbano, a bicicleta ainda é um modal restrito a uma elite em boa parte das cidades brasileiras. A empreendedora Lívia Suarez ficou bem certa disso depois de fazer um levantamento na internet e perceber, por exemplo, que boa parte das mulheres negras de Salvador não sabia pedalar. “Para muitas delas, andar de bike era só um sonho de infância deixado para trás”, ela contou. 

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Lívia já era engajada em questões ligadas à ciclomobilidade desde a criação de seu primeiro projeto, o La Frida Bike, cafeteria móvel que circula nas ruas e promove eventos culturais idealizados com sua sócia Maylu Isabel. Ao identificar, junto a sua parceira, o quão fundamental era aproximar mulheres periféricas do universo da bicicleta, passou a pensar soluções para isso.

Assim nasceu o Preta Vem de Bike, projeto que ensina mulheres negras e marginalizadas a pedalar e vivenciar a cidade de forma segura e consciente. Adiante, surgiu também a Casa La Frida, um espaço aberto para debater o tema, além de receber shows, cursos e funcionar como oficina. 

Logo, o guarda-chuva ganhou mais uma frente: uma linha de bikes chamada Bicipreta, que desenvolve produtos como um capacete pensado especialmente para o cabelo afro. 

Lívia Suarez é idealizadora do projeto La Frida Bike, que visa a promover a ciclomobilidade entre mulheres negras e periféricas. (Fonte: La Frida Bike/Divulgação)

Ajudar a democratizar a bike e aumentar oportunidades por meio desse modal a mulheres que ainda estão à margem da sociedade é um desafio constante para Lívia. 

Em entrevista ao Summit Mobilidade Urbana, a ativista fala do contexto que vivencia e de como tem trabalhado para enfrentar desigualdades socioespaciais. 

Como você avalia o cenário da ciclomobilidade em Salvador?

Ainda vamos fazer a contagem de ciclistas este ano, mas de maneira observacional, de 2015 para cá, a gente teve um crescimento absurdo. E antes não havia tantas pessoas negras utilizando a bicicleta. Hoje a gente vê muito mais e gente usando a bike tanto como meio de transporte e lazer quanto em serviços de entrega. 

Qual o papel do La Frida Bike em meio a esse contexto?

A gente não só atua nesse papel direto de ensinar e de capacitar as mulheres para usarem a bike, mas também estamos em diálogo com o governo, para implementar ciclovias, ampliar a segurança para ciclistas e pensar integrações do metrô. Então, trabalhamos mediante ação direta, mas também desempenhamos um papel interligado com as políticas públicas.

Por que a bicicleta é especialmente importante quando se fala em empoderar mulheres negras?

Um primeiro ponto é que mulheres negras são podadas de sonhar. O racismo nos leva a pensar que não somos capazes de executar determinadas funções e ingressar em determinados campos. A sociedade impõe que aquele lugar não é seu. 

Casa La Frida, em Salvador, promove encontros para discutir a ciclomobilidade entre mulheres periféricas. (Fonte: La Frida Bike/Divulgação)

A bicicleta é importante às mulheres negras por diversos motivos. No meu caso, por exemplo, ela veio como um processo de cura. Mas esse modal também nos dá muitas permissões de acessos e de possibilidades. 

A pandemia tem ganhado adeptos para o mundo das bikes. Como você percebe esse movimento?

Algo que eu tenho percebido é que a bicicleta não está ganhando mais adeptos porque as pessoas estão mais conscientes ou pensando na sustentabilidade. As pessoas estão usando a bike porque querem uma ferramenta segura para evitar contato com o vírus. Então, eu acho que agora o papel da gente é pensar em como manter esse movimento ideal, porque senão a gente volta para a estaca zero. 

Assim como o La Frida Bike, existem outros projetos interessantes que buscam garantir o acesso à cidade a a grupos marginalizados. Esses movimentos dialogam entre si?

Sim, nós temos uma rede colaborativa ampla. Ano passado, por exemplo, a gente fez o primeiro encontro do Fórum Preto de Mobilidade, com a proposta de reunir empresas, coletivos e movimentos negros que estão pautando a mobilidade e a bicicleta. A ideia é sempre destacar questões raciais, sociais e de gênero.

Quais têm sido as ações do La Frida Bike e o que o movimento pensa para o próximo período?

Hoje, temos uma casa de mobilidade para pessoas negras e periféricas: a Casa La Frida, que é um ponto de apoio para mulheres negras. Dentro da Casa La Frida temos uma linha de bike chamada Bicipreta, que é o nosso empreendimento. 

Como o urbanismo tático prepara as cidades para o pós-pandemia?

Produzimos bicicletas diferenciadas e recentemente criamos o capacete For The Black, pensado para pessoas negras. É um produto que leva em conta a estrutura do cabelo afro e possui uma diametria adequada para promover conforto e valorizar a identidade negra. 

Sobre nossas novidades: a gente vai fazer cinco anos agora e vamos lançar um projeto de cunho nacional a ser lançado no dia 3 de outubro. Ainda estamos preparando tudo, então, por enquanto é segredo. Mas vem coisa boa por aí. 

Quer conferir debates sobre uma mobilidade urbana mais democrática? Conheça o Estadão Summit Mobilidade.

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