O transporte ativo (a pé ou de bicicleta) e coletivo (ônibus, trens e metrôs) é dominado pelas mulheres nas cidades brasileiras — isso é o que apontam pesquisas sobre mobilidade urbana que introduzem o recorte de gênero. Enquanto isso, o deslocamento por veículos motorizados individuais é majoritariamente masculino.
O viés de gênero nos padrões de viagem pode ser notado tanto em países ricos quanto em desenvolvimento. Entretanto, a situação fica ainda mais visível na América Latina, onde mulheres são a maioria entre os usuários de trens, metrôs e ônibus.
Transporte ativo e coletivo
A Pesquisa Origem e Destino, realizada pelo Metrô de São Paulo a cada dez anos na capital paulista, aponta como a preponderância do público feminino no transporte ativo e coletivo é histórica. Em 2007, as principais viagens das mulheres eram realizadas por transporte público (39%) ou a pé e de bicicleta (38%), enquanto a maioria dos homens se deslocava por veículos individuais motorizados (35%).
Dez anos depois, a presença do público feminino continuava de forma majoritária no transporte ativo e coletivo, com 41% utilizando ônibus, trem ou metrô, e 35% percorrendo a cidade a pé ou de bicicleta. Já os homens aumentaram a participação no transporte motorizado individual, com 37% do total dos deslocamentos.
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Deslocamento por automóveis
Um estudo qualitativo mais recente, produzido em 2021 pela Younder, revela mais detalhes dos deslocamentos das mulheres. A pesquisa aponta que, apesar de representarem 51,7% da população brasileira, elas são proprietárias de apenas 14% dos automóveis e de 6% das motocicletas.
Na cidade de São Paulo, as mulheres são responsáveis por dirigir em 13,7% dos deslocamentos. No caso dos homens, isso acontece em 26,4% das vezes. Apesar da cultura sexista, que tenta diminuir a habilidade das motoristas, 70% das infrações de trânsito são causadas por homens, que também são 82% das vítimas em casos de acidentes com morte.
O motivo para optar pelo carro é diferente entre os gêneros. O estudo aponta que 45% dos homens preferem se locomover por automóveis para ter maior controle dos horários de chegada e de saída. Já 40% das mulheres escolhem o veículo individual para garantir a privacidade.
Medo na mobilidade urbana
De acordo com a pesquisa, a escolha das mulheres pelo carro próprio com o objetivo de manter a privacidade indica que há pouco respeito no transporte público. Entre as brasileiras maiores de 18 anos, 97% afirmaram que já passaram por situações de assédio sexual, seja no transporte público, seja em táxis, seja nos carros por aplicativo.
Apesar de o assédio sexual ser considerado crime desde 2001, a prática é comum no transporte ativo e coletivo, mas dificilmente é punida. Com isso, 46% das mulheres não se sentem confiantes para usar meios de transporte sem sofrer esse tipo de abuso, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão.
Fonte: Younder, Revistes UPC, Agência Patrícia Galvão.