Institutos de pesquisa conseguiram registrar, inclusive com imagens de satélite, como a poluição nas grandes cidades diminuiu com a quarentena para o novo coronavírus.
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Na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, a emissão de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente associado à queima de óleo diesel por veículos pesados e indústrias, caiu um terço na comparação entre março e abril e os mesmos períodos do ano passado.
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As informações foram divulgadas por pesquisadores da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) com imagens enviadas pelo Instituto Real de Meteorologia dos Países Baixos (KNMI, na sigla em holandês). O satélite também detectou grandes reduções na emissão de NO2 em outras capitais brasileiras, como Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES).
Essa descoberta interessante sobre os efeitos da quarentena na poluição ocorreu no âmbito de um estudo maior da Fapesp. Os pesquisadores buscam compreender o balanço dos gases do efeito estufa na cidade de São Paulo, trabalhando com radares em locais estratégicos, e as imagens de satélite europeias contribuem com dados importantes para as análises.
Inclusive, radares da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) já tinham dado indícios dessa mudança, que foi comprovada pelas imagens de satélite. De acordo com os dados, houve queda de 50% nas emissões de monóxido de carbono (CO) e óxidos de nitrogênio (NOx) em apenas uma semana. Além disso, as pesquisas haviam indicado queda de cerca de 30% de materiais particulados inaláveis na atmosfera. Essas substâncias são formadas por processos que ocorrem depois da queima de combustível e, se inaladas, podem causar danos à saúde.
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“A queda está fortemente ligada à diminuição da atividade industrial e dos transportes”, afirmou Eduardo Landulfo, especialista do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que trabalha com a equipe da Fapesp no estudo.
Queda na poluição cria condições especiais para pesquisa
“Há menos ruído, consegue-se ouvir mais os passarinhos e também há menos poluição. Esse céu mais limpo que pode ser notado em São Paulo já no início da quarentena é resultado da redução na circulação de veículos, a principal fonte de emissão de poluentes na cidade”, afirmou a pesquisadora Maria de Fátima Andrade, coordenadora do estudo, em nota divulgada pela própria Fapesp.
Andrade explicou que os poluentes que mais apresentaram quedas são justamente os emitidos por veículos. Essa diminuição no nível atmosférico na cidade tem outra contribuição inesperada: auxilia os estudos da Fapesp sobre a poluição geral da cidade.
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Como os veículos geram a enorme maioria da poluição, outras fontes menos expressivas, mas ainda assim importantes para os cálculos, acabavam se misturando nas medições dos radares. É o caso da queima de lenha e carvão para a produção de alimentos, denominada “poluição interna”, que pode corresponder a 10% dos gases do efeito estufa emitidos em São Paulo.
“Fora toda essa situação preocupante da pandemia, é como se estivéssemos vivenciando um experimento forçado inédito em poluição atmosférica. Isso vai permitir fazer medições praticamente impossíveis de serem realizadas em dias comuns”, explicou Andrade.
A pesquisadora também apontou outra descoberta curiosa, mas preocupante, obtida pelos dados dos radares e satélites: a celebrada diminuição na poluição está ocorrendo de forma desigual.
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A queda está sendo maior na região central da cidade, enquanto estradas (como a Marginal Tietê) seguem com altas concentrações de dióxido de carbono. “Ali ainda permanece tráfego intenso de caminhões. Já a região sudeste/sul está bem limpa, inclusive Santo Amaro e o ABC paulista”, explicou Landulfo.
Poluição na China foi observada até pela NASA
Uma descoberta semelhante foi feita na China. Uma matéria de 1º de março na BBC News Brasil mostrou que as imagens de satélites da Agência Espacial Norte Americana (NASA) deixaram os pesquisadores surpresos tamanha foi a diferença nos índices de poluição antes e depois da implementação das medidas de isolamento social.
Nos registros, é possível observar que o dióxido de nitrogênio começou a se dissipar primeiramente sobre Wuhan, onde a covid-19 teve seus primeiros surtos, e depois aconteceu em todo o país. Segundo Fei Liu, pesquisadora de qualidade do ar da NASA, um declínio nos níveis de dióxido de hidrogênio também ocorreu durante a recessão econômica de 2008, mas de forma diferente do que aconteceu agora. “É a primeira vez que vejo uma queda tão dramática em uma área tão ampla causada por um evento específico”, afirmou ela em comunicado oficial.
Fonte: Agência Fapesp, Estadão Saúde, BBC.
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