Por décadas, as cidades foram pensadas para acomodar o maior número de carros possíveis, mas novas pesquisas mostram que cada vez menos os sonhos dos jovens é ter um carro particular.
A geração Z, que abrange pessoas nascidas no fim dos anos 1990 e no início dos anos 2000, é mais integrada com a tecnologia, e o uso de aplicativos de transporte já é um hábito.
Além disso, a micromobilidade e a mobilidade ativa aparecem como preferências no deslocamento em oposição a ter um veículo particular e gastar horas no trânsito. Entenda como a geração Z pode mudar a mobilidade urbana.
Mudança de mentalidade
Uma pesquisa da consultoria norte-americana Allison+Partners com jovens do país mostrou que a maioria deles vê os carros como um mero meio de transporte, e não como algo que define a identidade.
Essa é uma mudança de paradigma nítida em relação à geração millennial (nascidos entre 1981 e 1997), que tinha nos carros um objetivo certo de conquista financeira e um modo de demonstrar status social.
Quando o veículo perde essa condição de ser um objeto de desejo e de distinção, os indivíduos escolhem usar o meio de transporte que dá mais conforto e tem menor custo, assim os apps de carona conquistaram facilmente um espaço.
Além dos custos, não ter um veículo próprio é visto como uma maneira de se livrar de muito incômodo. O estresse no trânsito e as dificuldades para estacionar são citados como causas de ansiedade, que fazem os jovens preferirem outros meios de transporte ao carro. Em São Paulo, por exemplo, o dono de um veículo gasta em média 3 horas por dia em deslocamentos no trânsito.
A pesquisa Alelo Tendências de Mobilidade da Geração Z, realizada pela Alelo em conjunto com o Instituto Júnior Mackenzie, entrevistou mais de 1,5 mil jovens nas maiores cidades do Brasil e descobriu que mais da metade não tira a carteira nacional de habilitação (CNH) quando atinge a idade permitida.
Além disso, 41% deles alegam falta de interesse em ter CNH e não acham que há necessidade para tal. A pesquisa mostrou também que nos próximos 10 anos os carros não devem mais ser a primeira opção de transporte.
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Micromobilidade e mobilidade ativa
As pesquisas também têm demonstrado a preferência da geração z pelo uso de meios de transporte que diminuam as emissões de gases causadores do efeito estufa, e a combinação do deslocamento com o exercício físico. A mobilidade ativa abrange qualquer meio de transporte que exija algum esforço físico, como bicicleta, patinetes elétricos ou não e os deslocamentos a pé.
A micromobilidade também é um objetivo para as novas gerações. Essa é a categoria de mobilidade em que o indivíduo realiza viagens mais curtas ao longo do dia. Para que seja possível, é preciso morar perto do trabalho e de centros comerciais. A pandemia e a normalização do home office permitiram que isso fosse realizado fora dos centros das grandes cidades.
A integração de modais também é citada como uma forma de deslocamento mais utilizada do que os carros. Sair de um metrô e utilizar um patinete elétrico ou uma bicicleta de um app de compartilhamento é uma solução mais buscada por pessoas mais jovens.
Dificuldades
No Brasil, a falta de infraestrutura urbana para o uso de opções alternativas de mobilidade é um entrave para sua popularização. Os jovens ouvidos na pesquisa citam a qualidade das ciclofaixas (e a ausência delas), a falta de segurança e os poucos pontos de distribuição entre os principais motivos para não usarem esses meios com mais frequência.
Algumas cidades da Europa, como Paris, Barcelona e Berlim, já estão se adaptando às novas tendências de mobilidade urbana. O alargamento de calçadas, a inserção de ciclovias, o uso de faixas da rua para uso exclusivo de meios de transporte alternativos e subsídios para quem não usa mais os carros são algumas das medidas que já estão em prática.
Ainda existe um longo caminho a se seguir para que as cidades superem a dependência dos carros e de veículos de combustíveis fósseis. As tendências de deslocamento da geração Z, porém, apontam que há alternativa e esperança de um futuro com menos poluição e mais saúde nas cidades.
Fonte: Consumidor Moderno, Mobilize, Reunidas, Infra FM, Mobel.