O crescimento do mercado de carros elétricos é perceptível, pois a presença desses veículos nas ruas de praticamente todo o mundo é cada vez maior. Até mesmo no Brasil, onde suas vendas são menores (7,5 mil unidades, em um mercado de 2 milhões de carros, em 2020) o crescimento é expressivo: 221% em comparação ao ano anterior.
Conheça o maior e mais relevante evento de mobilidade urbana do Brasil
Em outras regiões, como na Europa, há fabricantes que anunciaram o fim da produção de seus veículos a combustão. Na Noruega, mais da metade das vendas de automóveis novos já são de modelos movidos a eletricidade, como aponta Daniel Schnaider, CEO da Pointer by Powerfleet Brasil.
Seguindo esse movimento, os carros elétricos poderão ser a maioria da frota em um futuro próximo. Nesse contexto, qual é o futuro dos veículos a combustão? Confira as previsões de sete especialistas.
Uma transição gradual
É importante levar em conta que os carros elétricos estão se tornando maioria entre os zero-quiômetro, mas há uma enorme frota a combustão que deve continuar em circulação.
Como pondera Fernando Schaeffer, CEO da Smart Driving Labs, a idade média de um automóvel é em torno de dez anos no Brasil. Nesse contexto, seria necessário muito tempo para que todos fossem substituídos por elétricos, inclusive no mercado de automóveis usados.
Além disso, o país já tem o etanol, que não deixa de ser uma alternativa mais sustentável aos derivados de petróleo, mesmo mantendo os motores a combustão. Assim, o primeiro passo para os automóveis brasileiros, antes da eletricidade, podem ser os carros híbridos (que combinam os dois tipos de motor). A Toyota já lançou no Brasil híbridos com motor a combustão flex, que rodam também com etanol, por exemplo.
Desse modo, o palestrante e especialista em inovação Arthur Igreja acredita que a combustão e a eletricidade devem dividir as ruas por um bom tempo. “Poderemos ter uma coexistência de décadas de ruas tomadas por elétricos em números crescentes, mas carros a combustão ainda vão permanecer por muito tempo”, ele afirmou.
Um futuro renovável
Passadas as décadas de coexistência, com carros a combustão sendo revendidos enquanto funcionarem e, gradualmente, tornando-se relíquia de outros tempos, ainda resta a dúvida sobre o destino final desses produtos. A solução, de acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, é a reciclagem das peças e dos materiais.
Segundo Davi Bertoncello, da Tupinambá Energia, 85% das peças de um automóvel podem ser reaproveitadas. Há componentes que simplesmente não existirão no mundo dominado pelos carros elétricos, como bloco do motor, tanque de combustível ou eixo de transmissão, como aponta o professor Arnaldo Bohn Nobre, do curso Hexag. Essas partes precisariam ser totalmente recicladas para reaproveitamento de seus materiais.
Nesse sentido, há diversas indústrias que podem aproveitar esses itens: “são reutilizados por inúmeras indústrias que necessitam de ferro, plástico, vidro e outros componentes. Isso nos leva a crer que não faltarão consumidores para eles”, disse Schaeffer. No futuro, os carros já serão projetados pensando no reaproveitamento de componentes antigos, aposta o diretor de inteligência e estudos de mercado da Liga Ventures, Raphael Augusto.
Outros desafios no horizonte
Mas há outros desafios, além da reciclagem, que precisam ser transpostos para que os carros elétricos realmente ganhem o mundo. A disponibilidade de pontos de recarga é um deles, segundo o professor Edson Watanabe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE).
“No caso do Brasil, uma mudança radical de veículo a combustão interna para elétrico vai exigir grandes mudanças na infraestrutura de fornecimento de energia elétrica em geração, transmissão e distribuição”, afirmou Watanabe.
Além disso, é necessário ter em mente que a indústria de carros elétricos também precisa evoluir em termos de sustentabilidade, já que seus projetos demandam grandes e pesadas baterias de íons de lítio. Por fim, também há o custo humano dessa mudança, já que a indústria petrolífera, que movimenta os veículos a combustão, gera mais de 500 mil empregos apenas no Brasil, como aponta Daniel Schnaider.