Os congestionamentos estão entre os principais problemas de mobilidade urbana nas cidades de todo o mundo. Isso faz as autoridades públicas se preocuparem com a construção de novas vias e a ampliação das existentes.
Entretanto, os grandes projetos de infraestrutura viária, que consomem vultosos recursos econômicos e modificam a paisagem urbana, vêm sendo questionados. Estudos mostram que eles podem piorar ainda mais a situação.
Mais ruas, mais congestionamentos
Inúmeros estudos indicam que a expansão de faixas, construção de viadutos e novas avenidas acabam produzindo um efeito contrário ao desejado: o aumento dos engarrafamentos.
Um dos primeiros a perceber isso foi Robert Moses, responsável por transformações importantes no panorama de Nova York. Durante os 40 anos em que atuou na carreira pública, o urbanista supervisionou a construção de 35 autoestradas, 12 pontes e inúmeros parques.
Em 1939, Moses promoveu a construção de uma série de vias que mudaram o cenário da mobilidade nova-iorquina. Entretanto, três anos depois, o próprio urbanista concluiu que a nova infraestrutura viária acabou gerando mais problemas de trânsito do que os já existentes.
Tráfego induzido
O mesmo fenômeno foi observado em outras cidades do mundo. Em 1996, o professor de Política de Transporte Phil Goodwin, do Centre for Transport and Society da Universidade de West of England, cunhou o termo “tráfego induzido”, a partir de dados de autoridades britânicas.
O estudioso concluiu que a facilidade gerada pelas novas ruas estimula mais o uso do automóvel, o que aumenta naturalmente o trânsito até saturá-lo. Dessa forma, seria necessário um novo investimento para expansão da infraestrutura, mantendo o estímulo e causando um ciclo vicioso sem fim.
O caso de São Paulo
Os efeitos adversos da ampliação da infraestrutura viária nos congestionamentos também foram sentidos no Brasil. O caso mais evidente foi a construção da terceira via da Marginal Tietê em São Paulo, em 2010, que prometia mais fluidez no trânsito. A obra, que custou R$ 1,5 bilhão, teve efeito positivo apenas durante os três primeiros anos após a inauguração.
Quatro anos depois, os dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) apontaram que a lentidão média em dias úteis da via subiu até 80%. Em 2014, a lentidão média no horário de pico da tarde, que era de 19,8 quilômetros, em 2010, subiu para 35,7 km. No entanto, no período, a frota de veículos circulando nas ruas paulistanas teve um aumento 17,5%.
Evaporação do tráfego
Por outro lado, a redução dos congestionamentos pode ser alcançada pela redistribuição viária do espaço. O trânsito tende a desaparecer quando as vias destinadas para os veículos particulares passam a ser destinadas para os modos de transporte mais sustentáveis, como caminhada, bicicleta e transporte coletivo.
O fenômeno, conhecido como “evaporação do tráfego”, foi descrito em um artigo publicado por Goodwin e outros dois pesquisadores na revista Municipal Engineer. Na pesquisa, foram analisados 70 estudos de caso de redistribuição de espaço viário, e a conclusão foi de que as pessoas ajustam seu comportamento de forma imprevisível para os modelos de tráfego implantados.
Fonte: The City Fix, Mobilize, WRI Brasil, Britannica, Springer Link, Nacto.