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Conheça a história dos prédios tortos de Santos

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A partir da década de 1970, uma peculiaridade chamou a atenção na orla de uma das principais cidades do Brasil, os prédios tortos de Santos. Ao longo dos anos, mais edifícios foram afetados, então a inclinação começou a aumentar. Depois de virar atração turística e causar pânico em moradores, uma força-tarefa entre poder público e acadêmicos, bem como uma linha de crédito federal, foi criada para corrigir a situação.

Prédios tortos em Santos. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Santos abriga o maior porto da América Latina e, além de ser uma grande cidade, com mais de 430 mil habitantes, é um dos principais pontos turísticos no Estado de São Paulo. A história da localidade é quase tão antiga quanto a história do Brasil, pois a primeira menção à ilha onde Santos fica localizada aconteceu apenas dois anos depois da chegada dos portugueses ao País.

Dada a sua localização estratégica, já havia portugueses instalados na região em 1530, dividindo o bioma Mata Atlântica com indígenas Guarani Mbya e Tupi-Guarani. Em 1546, o povoado foi elevado à categoria de Vila e, em 1839, tornou-se a cidade de Santos.

A rápida evolução no século 19 ocorreu por causa da importância que o porto ganhou para os negócios brasileiros. Em pouco tempo, o local foi reformado, e um plano de saneamento foi introduzido na cidade. Com a chegada da estrada que ligava São Paulo a Santos, futuramente chamada via Anchieta, a cidade portuária viu a urbanização disparar em 1951.

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Construções de edifícios na orla

Foi a partir da década de 1950 que os antigos casarões das elites começaram a dar lugar aos novos empreendimentos imobiliários: os imponentes prédios na orla da cidade. Nesse momento, foi cometido um grave erro conceitual por parte dos engenheiros das empreitadas, fazendo que, mais tarde, muitas fundações de edifícios precisassem ser corrigidas.

Santos tem um terreno bastante argiloso, e os primeiros estudos realizados para a construção de edifícios estimavam que uma camada mais sólida de rochas se encontraria a 10 metros de profundidade.

Mais tarde, descobriu-se que, abaixo da primeira camada de areia, havia outra de argila e mais uma de areia ainda mais fina. Os primeiros fragmentos de rocha estavam a cerca de 50 metros de profundidade.

Dessa maneira, na época, os construtores optaram pelas obras com fundações de blocos de concreto, que custam de 15% a 20% menos do que colocar as vigas que alcançassem o leito rochoso.

Os prédios tortos de Santos

Com o crescimento do número de construções, o terreno foi sofrendo estresse e se movimentando, causando o recalque das fundações dos edifícios. Após alguns anos em que os “prédios tortos de Santos” viraram cartão-postal, além de um detalhe pitoresco da cidade, preocupações com a segurança dos moradores e de outros habitantes passaram a ser levantadas.

Estudo para criar soluções com o objetivo de consertar os prédios tortos de Santos levou oito anos. (Fonte: Unicamp/Reprodução)

Somente em 2004, o poder público exigiu uma solução. Uma força-tarefa com acadêmicos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Santa Cecília (Unisanta) realizaram estudos com o intuito de criar soluções para o problema.

Cerca de 65 prédios, com um total de mais de 16 mil pessoas, tinham inclinações entre 0,5 metro e 1,8 metro. Na maioria, os prédios eram habitados por idosos, e a correção precisaria ser feita sem retirar os moradores de suas casas.

Depois de oito anos de estudos, uma solução foi encontrada. Equipamentos hidráulicos levantavam a estrutura dos prédios lentamente, cerca de 5 milímetros por dia, os vãos eram preenchidos com chapas de aço até que o prumo fosse alcançado. Em seguida, novas vigas foram fixadas em uma profundidade de 55 metros, e estruturas de concreto conectaram a antiga fundação às novas vigas, endireitando os prédios tortos de Santos.

A recuperação de cada prédio custou cerca de R$ 1,5 milhão e, para que os moradores conseguissem bancar as obras, o governo federal criou linhas de créditos específicas. Entre 2012 e 2014, 65 dos prédios com maior risco devido à inclinação foram corrigidos.

Atualmente, a orla não tem mais nenhum prédio gritantemente torto, mas o risco estrutural ainda existe, e a fiscalização é mais severa. Edifícios que se movimentam a ponto de causar risco são notificados para buscar soluções.

Muitas das construções, principalmente as realizadas entre 1950 e 1960, estão sujeitas a movimentação das estruturas. Especialistas afirmam que o problema pode ter sido maior do que a simples ignorância e pode ter envolvido má-fé de construtores ou empreiteiras que optaram por métodos mais baratos e rápidos a fim de aumentar as margens de lucro.

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Fonte: ArchDaily, Engenharia 360, FechiEngenharia, Itambé, Unicamp.

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