A revista Bloomberg realizou um experimento durante a pandemia de covid-19. O periódico pediu a seus leitores de todo o mundo que desenhassem mapas dos espaços ocupados durante o período da pandemia. Como era de se esperar, a maioria deles é praticamente uma planta das casas dos leitores, com criativas maneiras de dar novas funções a cada cômodo.
“Mapas” de deslocamentos durante a pandemia
A equipe da revista selecionou 12 mapas para serem publicados em seu site. Lá, é possível ver casas onde o quarto das crianças se transformou em home office, o porão em academia improvisada e a cozinha virou o ponto focal do ganho de peso relacionado à covid-19. Os mapas pessoais corroboram várias tendências que pesquisas mais técnicas demonstraram.
O aumento do uso de aplicativos de entrega de compra e de comida é ilustrado pelo mapa das casas que separaram espaços específicos para que fossem feitas as entregas. A improvisação de home offices demonstra a redução dos deslocamentos diários. Até mesmo os mapas de pessoas que continuaram viajando a trabalho mostram momentos interessantes ao ilustrar lockdowns em diferentes cidades pelo mundo.
Pesquisas mostram mudanças de hábitos
Pesquisas mais abrangentes focadas em métodos quantitativos corroboraram a visão que as pessoas tiveram acerca da pandemia. Uma pesquisa do Centro de Excelência BRT+ em conjunto com a WRI Brasil analisou dados de mobilidade urbana de cidades da América Latina durante a pandemia: Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Bogotá, Buenos Aires, Lima, Quito e Santiago. Os deslocamentos urbanos diminuíram drasticamente, principalmente em relação ao uso do transporte público.
Das cidades analisadas, só Lima (Peru) e Quito (Equador) não tiveram respostas acima de 50% de adoção do home office. Destaques ficam para São Paulo, onde, no auge da pandemia, 72% dos entrevistados afirmaram ter adotado o regime de trabalho remoto.
O home office parece ter agradado muita gente. Quando os entrevistados foram perguntados se gostariam de voltar a trabalhar presencialmente, menos de 5% responderam que queriam retornar de modo integral. Cerca de 30% preferem trabalhar três dias por semana em casa, e 25% preferem o modo totalmente remoto. A maioria dos entrevistados considerou, também, que é mais produtivo quando trabalha remotamente.
Recorte de classe
A pesquisa do Centro de Excelência BRT+ e da WRI Brasil também mostrou um dado preocupante em relação aos deslocamentos com recorte de classe social. As pessoas em situações econômicas mais vulneráveis foram as que mais precisaram continuar se deslocando e utilizando o transporte público. Essa informação pode estar ligada com a maior quantidade de mortes nos bairros periféricos.
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Mobilidade ativa
Em relação à mobilidade ativa, aquela em que é preciso realizar um esforço físico para se deslocar, como andar de bicicleta ou a pé, a pesquisa mostrou dados conflitantes em diferentes cidades.
As cidades brasileiras analisadas demonstraram uma diminuição desses modais, isso sugere que a maioria dos deslocamentos migrou para os carros particulares ou de aplicativos.
As outras cidades realizaram melhorias e adaptações na infraestrutura urbana para se adequarem a esses modais. Bogotá, Buenos Aires, Lima e Quito investiram na construção de novas ciclovias e no alargamento de calçadas, consequentemente incentivaram os cidadãos a voltar a utilizar o meio de transporte.
Fonte: Bloomberg, WRI Brasil, Opas, Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).