Como a ilha de calor das cidades pode ser amenizada por esta técnica que une design, arquitetura e paisagismo
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O Flushing Meadows-Corona é o quarto maior parque de Nova York. Localizado no bairro do Queens, foi construído para abrigar a Feira Mundial da cidade de 1939-1940 e tem na Unisphere um dos seus pontos de maior destaque. Sua escultura mais conhecida é uma representação em metal de um globo terrestre e abaixo há uma suntuosa fonte de água.
No verão de 2021, o parque ficou de cara nova. No lugar do grande volume de água, viu-se um constante nevoeiro que refresca o calçadão. O “Jardim de Névoa” como ficou conhecido, foi uma iniciativa do Departamento de Parques e Recreação de Nova York para exibir uma escultura à base de água, que se conformasse às novas normas da cidade de não usar mais de 25 galões de água por minuto.
A atração, além de criar belos visuais, como o da escultura Unisphere parecendo flutuar sobre a névoa, tem uma importante função prática: ajudar a amenizar o calor intenso. O jardim tem quase 100 metros de comprimento e seu custo é de aproximadamente US$ 6,8 milhões, menor do que o custo da fonte tradicional que demanda um trabalhoso sistema de recirculação e higienização da água.
O conceito por trás do jardim de névoa vem de ideias antigas. Já na década de 1970, artistas como Fujiko Nakaya, Isamu Noguchi e Thomas Mee revolucionaram o mundo do design ao considerar a névoa como um meio de se fazer esculturas. Ao longo dos anos, diversos designers, arquitetos e urbanistas incorporaram as ideias à paisagem urbana.
É o caso de um dos precursores do parque no Queens, o Mirroir D’Eau (Espelho D’água) em Bordeaux, na França. Ali, uma longa calçada tem centenas de jatos de água embutidos e eles podem funcionar como uma fonte normal ou com a produção de uma névoa. A atração faz sucesso com crianças e adultos.
Outro exemplo do uso de névoa em contexto urbano é o da fonte Dodge em uma praça de Detroit. O artista Isamu Noguchi, criador da escultura, havia sido contratado para fazer uma fonte tradicional, mas inovou e desenhou uma fonte futurista em que a água não só cai de um grande anel, como também sobe e faz diversos padrões criando névoa.
A Bienal de Design de Zurique também tem uma atração que utilizou manipulação de névoa para criar experiências únicas. Neste caso, um antigo jardim botânico virou uma instalação interativa, com formatos de névoa diferentes sendo criados para cada visitante e se misturando com a belíssima paisagem das plantas. À noite, as nuvens formadas ainda são coloridas e desenhadas por um show de luzes e lasers. A execução é dos artistas do estúdio Authos.
Com o elevado grau de urbanização as cidades sofrem um fenômeno chamado “ilha de calor”. Ele ocorre em virtude da existência de muitas superfícies com alta absorção de calor, como asfalto, paredes de tijolo, calçadas, e pela ausência de revestimento vegetal. A concentração de edifícios também impede a circulação de ventos e a impermeabilização do solo dificulta que ocorra a evaporação. O calor então é novamente absorvido.
Somando essas características com a poluição e com um cenário de temperaturas mais extremadas devido ao aquecimento global, as áreas urbanas podem ter uma temperatura muito maior do que áreas rurais. Neste contexto, um jardim de névoa é uma opção para oferecer alívio à população e reconectá-la aos espaços urbanos, amenizando os efeitos do calor intenso.
Fonte: The Spaces, Global Times, Designboom, Authos, Arch Daily, Design Biennale Zurich, Bloomberg.