Relatório do Observatório do Clima aponta que 72% das emissões de dióxido de carbono vêm do campo em razão do modelo do agronegócio
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Se você está entre as pessoas que vivem e trabalham em grandes cidades, provavelmente deve contar os dias para um feriado chegar e você poder ir para o campo descansar. Afinal, o meio rural é sinônimo de ar puro e tranquilidade, certo?
Bem, uma pesquisa do Observatório do Clima (OC) aponta o contrário. Segundo essa rede de monitoramento climático, que reúne 37 entidades da sociedade civil brasileira, 72% dos gases do efeito estufa vêm do campo, e não das metrópoles do País.
Os dados não param por aí. O documento, que analisou dados de 2019, aponta um aumento de quase 9,6% na emissão de gases para a atmosfera em relação ao ano anterior. Conheça melhor o tema que tem preocupado especialistas.
Publicado em novembro de 2020, o 8° Relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) avaliou uma série de questões ligadas à emissão de gases na atmosfera. A preocupação central na investigação se refere ao aquecimento global.
Ao longo de 2019, o Brasil lançou 2,18 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (GtCO2e) na atmosfera. Em 2018, esse número tinha sido de 1,98 bilhão e já preocupava tanto cientistas quanto ativistas ligados ao tema.
Além disso, o documento revelou que o agronegócio é o principal responsável pelas emissões: 72% de todo o dióxido de carbono emitido à atmosfera vêm do uso da terra (44%) e da pecuária (28%).
Por isso, tanto quanto olhar para os problemas de superaquecimento e qualidade de ar nas cidades, é importante pensar na matriz de Sistemas Alimentares. Esse foi, inclusive, um dos eixos da Semana de Alto Nível, realizada no fim de setembro em Nova York, acompanhando a Assembleia Geral das Nações Unidas.
As expectativas para o nono relatório, que publicará dados referentes a 2020, não são animadoras. Embora o fluxo na mobilidade urbana tenha caído e até mesmo a produção industrial tenha sido refreada diante da crise econômica, o mesmo não ocorreu com o agronegócio.
Desde que os efeitos da pandemia se instalaram em todo o mundo, o dólar se tornou um destino mais seguro para investidores, fazendo o real se desvalorizar diante dessa moeda. E, como os produtores rurais estão entre os maiores exportadores do País e as vendas passaram a ser especialmente rentáveis, o campo seguiu aquecido.
Além disso, o Brasil vivenciou queimadas persistentes no Pantanal. De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 26% do território desse bioma ficaram comprometidos.
Segundo o OC, que ainda trabalha no relatório a ser publicado no fim deste ano, é possível que as emissões de gases em 2020 sejam até 20% maiores do que ocorreu em 2019, chegando a 2,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e).
As queimadas e o desmatamento irregular entre o Pantanal e a Amazônia estão ligados à abertura de novas áreas para o agronegócio. Esse é um dilema que o Brasil terá que enfrentar, já que o agronegócio é importante para a balança comercial, mas ainda segue um padrão predatório.
Na Cúpula de Sistemas Alimentares, em Nova York, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, registrou que o governo brasileiro pretende estimular a abertura de novas áreas para produção rural. Além disso, comentou que não se deve ter uma visão prescritiva sobre sustentabilidade.
Mas, em meio a esse impasse, uma resposta pode vir da própria cadeia do agro. O Brasil tem sido cobrado internacionalmente em relação a práticas de integridade e proteção ambiental. Alguns mercados mais exigentes, como o europeu, já vêm condicionando a importação de produtos a parâmetros de sustentabilidade.
Por isso, a proteção ambiental tem sido considerada um ativo econômico pela vanguarda produtiva do setor, que enxerga na proteção do meio ambiente uma forma de agregar valor à produção.
Fonte: iusnatura, Nat Geo, EBC.