Transporte público de qualidade é um dos pontos que mais demandam aprimoramento
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Em 1960, a recém-fundada Brasília chamou a atenção da pessoas por suas avenidas longas e largas. A cidade, que nasceu como capital do Brasil, foi projetada pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa com o objetivo de se tornar uma referência para o futuro — porém, hoje é um dos municípios brasileiros que mais sofrem com engarrafamentos.
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Se até mesmo um ambiente urbano planejado, como Brasília, sofre com problemas de mobilidade, imagina, então, o que ocorre em cidades centenárias, que evoluíram desordenadamente com o passar dos anos, como São Paulo e Rio de Janeiro?
É esse contexto que exige uma demanda de pensamentos sobre as maneiras de organizar o espaço da cidade considerando o território, permitindo o livre fluxo de pessoas e de mercadorias e comportando todos os meios de transportes cabíveis.
“Através do tempo, a sociedade fez e refez suas malhas urbanas seguindo as tendências que determinou para si, mesmo que impostas por poderes econômicos ou políticos.
A tecnologia agora protagoniza o escopo de soluções, apresentando à sociedade quais deverão ser implementadas para diminuir as distâncias, viabilizar o contato entre as pessoas e gerar menor impacto ambiental”, explica Ricardo Fortes, diretor de relações corporativas da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), em artigo do Estadão.
Um dos maiores entraves da mobilidade urbana é a cultura do carro, que prioriza o uso de veículos particulares. Nesse sentido, “De um lado, você teve um abandono nos investimentos para os ônibus, sem obras para novos corredores, e uma política de reajuste das tarifas por parte da Prefeitura.
De outro, houve uma política de facilitar a aquisição de carros”, comentou o geógrafo e especialista em mobilidade urbana Rafael Calabria em entrevista ao Estadão sobre o trânsito de São Paulo.
O que Calabria falou não é observado apenas na realidade paulista, mas também em diversas regiões de outros estados. O transporte público também carece de outros modais, um exemplo disso é que apenas sete cidades brasileiras operam linhas de metrô.
Não existem soluções mágicas para resolver a mobilidade urbana no país. “Enfrentar tais desafios exige soluções de infraestrutura e sistemas de transporte coletivo mais econômicos, eficientes e integrados”, escreve Ruy M. Altenfelder Silva, presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas, em artigo do Estadão. A integração multimodal e a melhoria no transporte público precisam ter destaque nesse momento.
Também é preciso valorizar o transporte público; no entanto, apenas 52% dos municípios brasileiros contam com transporte urbano de acordo com a Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU). Algumas cidades grandes, como São Paulo e Curitiba, investem em áreas exclusivas para ônibus, favorecendo aqueles que optam pelo transporte público — porém, não adianta o investimento ser destinado somente às vias, também é necessário que seja voltado ao sistema estrutural.
Outra opção é apostar em ciclofaixas, já que o ciclismo e os veículos compartilhados, como patinetes, cada vez mais ganham espaço nos meios urbanos. Uma pesquisa feita pelo Ibope, em 2019, mostra que 82% dos paulistanos gostariam de novas ciclovias. É uma clara tendência de apoio ao uso das bicicletas.
Isso é um estímulo importante para a continuidade das políticas públicas que incentivem o modal”, afirma Jorge Abrahão — coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, que encomendou a pesquisa, em matéria do Estadão.
Algumas metrópoles mundiais, como Londres e Estocolmo, implementaram sistemas de pedágio urbano, cobrando pela circulação de veículos em áreas mais centrais. Outra alternativa é ampliar a cultura da carona solidária, por meio de compartilhamento do mesmo veículo por pessoas que seguem na mesma direção. Nesse sentido, um conceito que tem crescido é o de “cidade compacta”, no qual todos os serviços necessários, como moradia e comércio, ficam em uma mesma área.
Em 2012, o Congresso aprovou a Política Nacional de Mobilidade Urbana, por meio da “Lei nº 12.587“. Segundo esta, todo município com mais de 20 mil habitantes precisa elaborar suas próprias táticas de mobilidade.
O prazo inicial para a publicação desse planejamento municipal era em 2018, depois foi postergado para 2019 e agora já está em 2021 — quase 10 anos após a elaboração da lei. “Por mais que o ministério faça o papel de procurar informar a respeito disso, temos muitos municípios, o país é muito grande. Há um problema de capacidade, mesmo, dos municípios. Eu não acredito que seja falta de vontade de fazer, acho que é mais pelas dificuldades do cotidiano deles”, disse o ex-ministro das Cidades, Alexandre Baldy, ao WRI Brasil.