Entenda por que, além do número de usuários, são necessárias novas métricas para tratar da qualidade de ônibus, trens e metrôs
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No Brasil e na maior parte dos principais países do mundo, o modelo do transporte coletivo urbano foi pensado para transportar muitas pessoas. O número de passageiros sempre foi, portanto, a principal métrica de eficiência desse tipo de serviço. Mas a pandemia tem apontado a necessidade de uma nova abordagem.
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Desde o ano passado, a tendência de perda de usuários nos modais coletivos se intensificou. Além de razões como conforto e rapidez, o carro ganhou importância por conta da segurança sanitária: ônibus, trens e metrôs se tornaram a pior opção de transporte, passando a ser vistos como uma “aglomeração sobre quatro rodas”.
Como agravante, a tendência de queda no uso do transporte coletivo se retroalimenta. Com menos usuários, as empresas diminuíram o número de veículos na frota. Assim, o modelo feito para ser viável em quantidade frequentemente oferece um serviço ruim, estando próximo do colapso e com as passagens tendendo a aumentar, algo que preocupa também para o pós-covid.
Diante disso, a saída tem sido considerar outras métricas para monitorar e estimular o uso do transporte coletivo — e a ideia de acesso parece ser um indicador promissor. Entenda por quê.
Medir a eficiência do transporte coletivo pelo número de usuários fez sentido nos anos que antecederam a covid-19. Afinal, quantificar isso é relevante no sentido de entender a dinâmica da cidade e a necessidade de financiamento público sobre o setor. Mas, ao que parece, esse indicador se referia a uma consequência.
A ideia de acesso, por sua vez, emerge durante a pandemia justamente para pensar as causas da questão: o que é necessário garantir para que as pessoas permaneçam usando o transporte coletivo durante e depois desse período?
Embora esse indicador não seja novo, elevá-lo ao principal fator de aferição do transporte coletivo é inovador. Isso implica em substituir a ideia de eficiência pela de efetividade: em vez de medir o quanto o transporte coletivo tem sido capaz de fazer, o foco é em quem ele atende: quais são as reais necessidades do usuário.
O conceito de acesso, portanto, reúne uma série de informações. A ideia pode tratar de fenômenos tradicionais, como preço e número de usuários, mas também de transporte até a última milha, de cidades de poucos minutos, da necessidade de ligação de bairros da cidade, da segurança das linhas, do serviço ser ou não acolhedor a mulheres.
Isso será especialmente desafiador no futuro próximo, que deve apresentar cidades menos densas e mais extensas. Com mais políticas de home office, o transporte público precisará se adaptar para ser uma resposta a usuários eventuais que andam longas distâncias.
Se o transporte coletivo já vivia uma crise, o risco agora é de que as transformações causadas pela pandemia (muitas delas permanentes, como políticas de home office e ensino híbrido) aproximem o setor do colapso.
Não é segredo que a falta de qualidade e os valores praticados no transporte coletivo tornam interessante tirar o carro da garagem. Além disso, o veículo particular está ligado a uma cultura que o valoriza e ajuda a explicar por que os modais coletivos são vistos como algo inferior.
Os problemas disso também são conhecidos: mais poluição e problemas de saúde, bem como agravantes econômicos para a população e para o Estado. Portanto, não se trata de salvar ônibus, trens e metrôs, mas de dirigir a sociedade para um caminho mais sustentável sem que a população pague um preço caro por isso.
Fonte: Bloomberg.
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