Medida permite novas formas de financiamento, mas especialistas advertem sobre modelos que coloquem em xeque a memória local
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O sistema de transporte coletivo tem vivido uma crise sem precedentes, que se aproxima do colapso. Desde o início da pandemia, as políticas de lockdown fragilizaram um setor cuja margem já estava espremida entre o lucro das empresas, a capacidade de financiamento das prefeituras e o custo da tarifa paga pelos usuários.
É nesse contexto que surge a ideia de renomear as estações de metrô de São Paulo, com base em patrocínios, algo que já existe em cidades como o Rio de Janeiro. Segundo a iniciativa da prefeitura paulistana, uma empresa poderá comprar o nome da estação, que acompanhará o nome tradicional. Mas essa medida tem recebido críticas por parte de alguns setores.
Quer saber mais sobre o assunto e compreender os prós e contras da medida? Então confira o que está em jogo.
Os naming rights se referem à possibilidade de “compra” do nome de estações de metrô. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a estação Botafogo passou a se chamar Botafogo Coca-Cola. Isso custará cerca de R$ 4 milhões anuais à empresa, e o valor deve ser empregado no investimento em segurança.
No caso da iniciativa da cidade de São Paulo, a ideia é que empresas possam adquirir o direito de uso por 20 anos. O nome da companhia será aplicado abaixo do nome original, com metade do tamanho, e haverá espaço para a logo. A prefeitura deverá divulgar o nome da empresa também em placas, totens e demais tópicos de comunicação visual.
Segundo a direção do metrô paulistano, a medida é necessária em razão da queda na arrecadação tarifária causada pela pandemia. Assim, pode-se criar novas fontes de financiamento sem que isso gere aumento na tarifa para o usuário ou no subsídio pago pela prefeitura às empresas.
Nesse momento, uma empresa prepara um estudo de viabilidade técnica, jurídica e financeira para a medida. Acredita-se que, das dezenas de estações de metrô, 15 delas são especialmente rentáveis. Tão logo esse relatório seja entregue, espera-se que a prefeitura lance um edital para captar interessados para esses locais.
Outros espaços da cidade já passaram por esse mesmo processo. Próximo do seu centenário, o antigo Teatro Paramount, que já se chamou Teatro Abril e agora é Teatro Renault. O futebol também vive esse fenômeno: o estádio do Corinthians passou a se chamar Neo Química Arena, e o do Palmeiras, Allianz Parque.
O transporte coletivo precisa se reinventar e não há margem financeira para que esse preço seja pago pela população: nem diretamente, por meio da tarifa, nem indiretamente, por meio da prefeitura. Portanto, do ponto de vista estritamente financeiro a concessão de naming rights é ótima.
Porém, a medida foi recebida com reservas. Há um temor de que batizar um espaço público com o nome de uma empresa cause a perda da identidade e do senso comunitário tão próprio de algumas regiões, como a Avenida Paulista ou a Liberdade, em São Paulo.
E isso pode ser um problema até mesmo para o setor privado. Para o procurador Luis Felipe Sampaio de Almeida, que estudou a questão, a privatização do ambiente público pode esvaziá-lo exatamente daquilo que o torna interessante para a concessão de naming rights: a existência de identidade e valores comunitários.
Fonte: Anape, Noticiando, Metrô CPTM, Meio e Mensagem.
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