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Carros com ouvidos: como os autônomos podem identificar sirenes?

Os carros autônomos têm múltiplas câmeras para identificar o que acontece ao seu redor, radares para saber a qual distância esses obstáculos estão, bem como sensores a laser complexos para ler todo o ambiente. Mas para dirigirem sozinhos com mais segurança, precisam também ouvir. 

Isso porque os sons são indispensáveis para se localizar no trânsito: ouvir um carro que se aproximou no seu ponto cego, gritos de um pedestre, uma sirene de ambulância ou polícia, o barulho de um caminhão de bombeiros. Até mesmo o atrito dos pneus com o piso pode ser um sinal para os motoristas, como bem observou um artigo de duas pesquisadoras dinamarquesas, atualmente em análise para publicação na revista Intelligent Transportation Systems Magazine.

Microfones podem ser instalados nos carros autônomos, assim como as câmeras, sensores e radares são acoplados atualmente. O grande desafio é criar sistemas que saibam processar os sons captados como a máquina mais tecnológica do mundo: o cérebro humano.

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Para que os passageiros possam ficar seguros nos carros autônomos, estes também precisarão ouvir os sons das ruas (Fonte: Samuele Picarini/Unsplash)

Aprendizado de máquina para interpretar os sons

Cientes da necessidade de audição nos autônomos, diversos institutos e empresas estão trabalhando em “ouvidos” para os novos veículos. Um dos protótipos mais promissores surgiu em 2020, no Instituto Fraunhofer de Tecnologia de Mídia Digital (IDMT) da Alemanha: ele inclui microfones para captar os sons e uma central de processamento para compreendê-los.

O engenheiro Danilo Hollosi, que participa do desenvolvimento, explica que essa central de processamento é treinada com uma enorme biblioteca de sons arquivados. Sua inteligência artificial, que usa técnicas de aprendizado de máquina, começa a “entender” quais ruídos do trânsito realmente importam e quais ações precisam ser tomadas — tudo isso antes de sair às ruas. A tecnologia desenvolvida na Alemanha deve chegar ao mercado em 2025. 

Do outro lado do Atlântico, a empresa norte-americana Waymo, ligada ao Google, desenvolve tecnologias para interpretar sons desde 2017. A empresa realizou testes com carros de polícia, ambulâncias e caminhões de bombeiros para criar uma base de dados de sons — não apenas para identificar o barulho da sirene, mas também saber de onde vem e a qual velocidade. 

A ideia é que os carros da empresa saibam que, se um caminhão de bombeiros está vindo de trás, ele precisa abrir passagem saindo para o lado; ou que, se uma ambulância está se aproximando em alta velocidade por um cruzamento, ele precisa ficar parado, mesmo que o sinal esteja verde. 

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Os autônomos devem detectar se há uma ambulância vindo por uma esquina, fora do campo de visão das câmeras, por exemplo (Fonte: Clay Banks/Unsplash)

Possibilidades de interpretação

Mais do que detectar sirenes, ouvir é uma habilidade importante para complementar a “visão” dos carros autônomos — afinal, as câmeras e sensores visuais podem não funcionar tão bem com chuva, neblina, fumaça, neve e outras intempéries, ou até mesmo em uma noite bastante escura e com poucas luzes na rua. 

Além disso, elas mapeiam a necessidade de leitura do piso, visto que nem todos os carros autônomos vão andar no asfalto das grandes cidades. Isso pode auxiliar em usos off-road dos veículos, como em missões de resgate, em usos agrícolas ou para levar suprimentos a áreas remotas. Mesmo no asfalto, as diversas texturas das vias podem ser importantes sinais para os autônomos — andar mais rápido ou devagar, por exemplo.

Por fim, é interessante ponderar que os carros autônomos ainda não sabem interpretar vários outros sinais bastante “humanos” no trânsito — como aquela breve buzina para avisar o outro condutor que ele pode passar. Mas o rápido desenvolvimento das tecnologias dá a entender que tudo isso e muito mais será possível em poucos anos.

Fonte: Wired, Mobilize, IEEE.

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