Estudo aponta que muitas mortes poderiam ser evitadas se os motoristas dirigissem automóveis pequenos em vez de carros grandes
Publicidade
Atropelamentos estão entre as principais causas de mortes no trânsito. Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de acidentes fatais com pedestres cresceu 51% de 2009 a 2019, enquanto a quantidade de acidentes com motoristas e passageiros permaneceu relativamente estável no mesmo período, segundo dados divulgados pela Vox.
Inscreva-se agora para o Estadão Summit Mobilidade. É online e gratuito!
Há muitos fatores que podem ser ligados a esse fenômeno, como o planejamento urbano que privilegia os carros, com vias de alta velocidade e pouca estrutura para pedestres. Mas uma pesquisa realizada pela Universidade do Havaí (EUA) ofereceu um novo argumento para esse debate: o aumento do tamanho dos automóveis nas últimas décadas.
Leia também:
Apenas para ilustrar esse argumento, o carro mais vendido no Brasil na década de 1980 era o compacto VW Gol, que media 3,79 metros; atualmente, o Chevrolet Onix, também considerado um compacto, mede 4,16 metros, quase 10% a mais.
Também é importante considerar o fenômeno dos veículos utilitários esportivos (SUVs), aqueles carros mais altos, com apelo “fora-de-estrada”, que se tornaram o segmento mais vendido em vários países, incluindo o Brasil, onde correspondem a quase 40% do mercado. Também costumam ser maiores que os carros compactos: um Jeep Renegade, o SUV mais popular de 2021, mede 4,23 metros e pode pesar até 1.643 quilos.
Esses números são importantes para entender por que o tamanho dos carros pode oferecer riscos para os pedestres. Cálculos do Instituto das Seguradoras para Segurança Rodoviária (IIHS) dos Estados Unidos mostram que os pontos cegos de um Jeep Renegade chegam a 2,15 metros depois do capô do veículo.
Um sedã Toyota Camry, mesmo sendo maior em comprimento e espaço interno, tem 99 centímetros de ponto cego na dianteira. Já em um Cadillac Escalade, um SUV grande, os pontos cegos chegam a 3,09 metros.
Além disso, os SUVs costumam ter maior área frontal, capô elevado e para-choques rígidos, que podem causar mais danos ao pedestre em caso de atropelamento. O maior peso, por sua vez, interfere na capacidade de frenagem desses veículos, o que pode gerar acidentes.
Esse pensamento é corroborado pelos dados de atropelamentos fatais por SUVs, que cresceram 81% nos Estados Unidos de 2009 a 2019, segundo a IIHS. O que remete à pesquisa publicada pela Universidade do Havaí. De acordo com os cálculos, se todos os SUVs dos EUA fossem carros pequenos, quase 3,3 mil mortes teriam sido evitadas no período analisado. Considerando também as picapes, o número subiria para 8,1 mil mortes evitáveis.
Os estudos do pesquisador Justin Tyndall analisaram dados públicos de 700 mil acidentes em 358 metrópoles dos Estados Unidos e buscaram isolar outros fatores que podem causar atropelamentos, como ingestão de álcool e imprudência. O artigo conclui que, a cada 100 quilos a mais no peso do automóvel, o risco de morte de pedestre aumenta 2,4%. Sobre o tamanho, dimensões 10% maiores causam 3,6% mais mortes.
Em vista disso, os carros grandes até podem fazer que os motoristas se sintam seguros no trânsito caótico das cidades, mas substituí-los por carros pequenos é melhor para os pedestres.
Fonte: Sidewalk Talk, FlatOut