Como o desenho das ruas pode influenciar a segurança das vias?

13 de abril de 2020 5 mins. de leitura

Redução nos limites de velocidade podem gerar uma diminuição sensível no número de acidentes e mortes no trânsito

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O desenho das ruas de uma cidade influencia a forma como as pessoas se locomovem: se elas escolherão ir de carro ou a pé, onde elas vão atravessar, a velocidade dos deslocamentos, entre diversos outros fatores.

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Não por acaso, a maneira como as vias são planejadas tem influência direta no número de acidentes. Por isso, diversos municípios do mundo já estão adotando iniciativas de desenho seguro das ruas, para reduzir o número de fatalidades no trânsito.

Fortaleza, por exemplo, conseguiu diminuir o número de mortes no tráfego em 50%, adotando medidas como a redução de velocidade em avenidas, a criação de áreas de trânsito calmo (com deslocamentos abaixo de 40 km/h) e a requalificação de vias.

Em Bogotá, capital da Colômbia, as mortes diminuíram 32% em quatro avenidas, que tiveram redução de 60 km/h para 50 km/h em seus limites. Além disso, os congestionamentos diminuíram, ao contrário do que parte da população e a mídia temiam, já que a menor velocidade nivelou os fluxos.

A organização internacional WRI (World Resources Institute) já realizou dezenas de estudos sobre o assunto e comprovou, com base em vários dados, que as intervenções no desenho das ruas realmente têm impacto na segurança de quem se locomove por elas.

Ações de redesenho também envolvem estratégia

O desenho das ruas vai além do formato que elas ocupam no espaço — reto ou com curvas. Envolve também as estratégias utilizadas para direcionar o fluxo pelas vias. Essa é uma das razões pelas quais a diminuição de limites de velocidade tem tanto impacto nesse tipo de ação. Estratégias que estimulem o uso de transporte público e a mobilidade ativa — a pé ou de bicicleta, por exemplo — são úteis.

Em Buenos Aires, foi estipulada uma meta de reduzir em 30% o número de mortes no trânsito. Entre outras medidas, a cidade ampliou o sistema Metrobus de corredores exclusivos de ônibus, aumentou o número de estações do sistema público de bicicletas compartilhadas e criou mais ciclovias. Além disso, estruturou áreas com prioridades para pedestres, diminuindo 50% o número de automóveis na região central.

O objetivo de todas essas ações é reduzir a dependência dos automóveis e estimular uma convivência mais harmônica entre os diferentes meios de transporte. Isso é especialmente importante se levarmos em conta que os motociclistas, ciclistas e pedestres não têm a mesma proteção física que os motoristas de automóveis. Nesse sentido, diversas estratégias podem ser adotadas:

  • calçadas mais largas;
  • separações físicas entre carros, ciclistas e pedestres;
  • espaços de convivência e mobiliário urbano;
  • travessias seguras ou elevadas;
  • áreas verdes e canteiros;
  • rotatórias em cruzamentos;
  • lombadas e chicanes (curvas artificiais para redução de velocidade).
(Fonte: WRI Brasil/Reprodução)

Dados comprovam efetividade das ações

A efetividade de cada intervenção pode ser comprovada — ou não — ao ser cruzada com os dados de acidentes e mortes no trânsito. Lombadas e chicanes podem diminuir o número de feridos em uma via em 41% e 54%, respectivamente. No caso das rotatórias, a redução pode ser de 70% a 90%, de acordo com dados divulgados pelo instituto WRI Brasil.

O tamanho das quadras e até mesmo a distribuição espacial da área urbana tem peso nesse aspecto. Um estudo realizado pelo instituto WRI Brasil, com dados de acidentes ocorridos entre 2014 e 2018, em São Paulo, demonstrou que quadras mais longas e com ruas mais largas são menos seguras. Isso porque, em quarteirões menores, os carros desenvolvem menos velocidade e os pedestres fazem menos travessias em local inapropriado.

Cidades mais compactas e conectadas também são mais seguras. Um exemplo bastante simbólico disso é a comparação entre Atlanta e Barcelona: ambas têm aproximadamente 5 milhões de habitantes, mas a primeira tem uma área 12 vezes maior que a segunda. Por isso, seus habitantes precisam se deslocar mais de carro, em uma velocidade superior. Como resultado, o número de mortes no trânsito é 18 vezes maior. Os cálculos do WRI apontam que 1% de compactação se traduz em 1,5% menos mortes nas ruas.

Para que as cidades sejam mais compactas, as administrações podem estimular um uso misto das áreas, mesclando comércios, residências e serviços em todos os bairros. Dessa maneira, os cidadãos podem encontrar tudo de que precisam em uma distância menor, deslocando-se menos.

Essas medidas, somadas às ações de redesenho citadas anteriormente, podem diminuir enormemente o número de acidentes nas ruas e salvar vidas. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados pela Agência Brasil, mostram que 1,3 milhão de pessoas morrem no trânsito todos os anos. “Nenhuma fatalidade no trânsito é aceitável. As pessoas cometem erros e o sistema viário deve protegê-las. Para isso, é necessário intervir no sistema viário a partir de evidências e em um profundo entendimento do território”, afirma o analista de Segurança Viária do WRI Brasil, Diogo Dias Lemos.

Fonte: WRI Brasil

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