Para muitas pessoas no Brasil, a conveniência de dirigir sem trocar marchas é relativamente nova, uma vez que o câmbio automático era restrito a modelos mais caros até alguns anos atrás. Mas, de forma alguma, é uma tecnologia nova, sendo patenteada em 1932. Seus inventores, aliás, eram uma dupla de brasileiros.
Outras tecnologias para os carros automáticos já eram patenteadas desde os primeiros anos do século 20, quase junto da invenção do automóvel. Porém, elas não funcionavam bem na prática nem foram adotadas em grande escala. Os primeiros a criar uma caixa de transmissão automática que realmente podia ser utilizada no cotidiano foram os brasileiros José B. Araripe e Fernando Lemos.
Eles se mudaram para os Estados Unidos nos anos 1920, trabalharam por uma década em sua ideia e a venderam para a General Motors em 1932. A fabricante norte-americana lançou o primeiro carro automático de produção em massa: a linha Oldsmobile 1940.
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Dos “hidramáticos” ao conversor de torque
“A nova sensação ao dirigir” e “a maior inovação desde o motor de arranque”, isso era o que dizia a publicidade do Oldsmobile 1940. De fato, a tecnologia era surpreendente: na época, as caixas de câmbio da maioria dos carros não eram sincronizadas, e a operação da embreagem era muito mais complicada do que nos carros modernos. Apenas dirigir sem precisar trocá-las fazia ainda mais diferença.
Ainda assim, a solução que movimentava os primeiros carros automáticos era bem diferente das atuais. As marchas do câmbio eram engatadas por componentes hidráulicos, dispensando a necessidade da embreagem, mas gerando alguma perda de força do motor. Por isso, esses câmbios foram batizados como Hydra-Matic — ou “hidramáticos”, na versão aportuguesada.
Ainda na mesma década, outra inovação importante saiu das pranchetas da General Motors: o conversor de torque. O sistema resolve a limitação dos câmbios hidramáticos, ao multiplicar a força do motor em baixas rotações e velocidades. O primeiro automóvel lançado com essa tecnologia foi o Buick 1948, com soluções semelhantes se popularizando nos Estados Unidos nos anos seguintes.
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A evolução contínua dos carros automáticos
Os câmbios hidramáticos continuaram populares até o início da década de 1960, mas logo os carros automáticos com conversor de torque se tornaram a regra. Até hoje esse tipo de peça está presente em diversos automóveis — com evoluções, é claro, como a presença de centrais eletrônicas que analisam o funcionamento do motor para selecionar as marchas ideais.
O desenvolvimento das centrais eletrônicas, a partir dos anos 1980, permitiu que as trocas de marcha se tornassem mais suaves, oferecendo mais conforto. Por outro lado, os automáticos modernos também oferecem melhor desempenho e eficiência, que costumavam estar entre as principais críticas a esse tipo de câmbio.
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Enquanto os primeiros automáticos tinham apenas duas ou três velocidades, os câmbios de quatro marchas se tornaram comuns nos anos 1980. Atualmente, mesmo os carros automáticos mais baratos têm cinco ou seis velocidades. Nos modelos de luxo, há câmbios de oito até dez marchas, além de diferentes modos de condução, privilegiando conforto, esportividade ou economia de combustível, como o motorista preferir.
No Brasil, o primeiro carro automático foi o Ford Galaxie, em 1969. Até a abertura das importações de automóveis, no início dos anos 1990, as opções continuaram bastante restritas. Nos últimos anos, a oferta desse tipo de câmbio em carros mais acessíveis — como Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e outros — permitiu que os carros automáticos finalmente ganhassem as ruas brasileiras. De acordo com estimativas da consultoria Jato Dynamics, cerca de 40% dos automóveis novos vendidos no Brasil já não demandam esse tipo de câmbio.
Fonte: AutoShow Collection, Jornal do Carro/Estadão, Pradomatic.