Pandemia denuncia fragilidades na estrutura das cidades

21 de junho de 2020 4 mins. de leitura

Periferias tendem a sofrer muito mais do que as áreas centrais dos municípios durante a quarentena

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Moradores das periferias têm menos estrutura para conviver com o isolamento. Entenda por que isso acontece e quais são as consequências desse fenômeno na prática

Mais do que uma crise sanitária, a pandemia da covid-19 também representa uma crise humanitária, com desequilíbrios no acesso à cidade. Nesse momento, fica clara a forma como os municípios são estruturados e de que modo os serviços essenciais são distribuídos nos centros urbanos.

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Segundo o arquiteto e urbanista Carlos Hardt, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana-PPGTU, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), para os estratos sociais mais vulneráveis, qualquer problema nos serviços ou nas condições de vida impactam muito mais. “As classes mais abastadas têm maior capacidade de conviver com esse problema, pelo menos por um tempo”, ele diz.

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As periferias são as regiões mais afetadas pela pandemia. (Fonte: Unsplash)

Menos estrutura para se manter em isolamento social

Para Hardt, há muitas “regiões periféricas” com boas condições econômicas e serviços para enfrentar o período de isolamento social, como é o caso de condomínios fechados. Contudo, quando são analisadas as periferias ocupadas por comunidades mais vulneráveis, a diferença de estrutura é perceptível.

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São desigualdades que existem há décadas e resultam da forma como as cidades se estruturam e de como os serviços são distribuídos no espectro urbano. O professor explica que as regiões periféricas são ocupações mais recentes, com menor densidade demográfica — portanto, os raios de abrangência dos serviços são maiores — e geralmente abrigam pessoas com menor influência política e econômica.

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Enquanto os moradores de bairros mais bem-estruturados têm mais condições de fazer a maioria das atividades necessárias no seu dia a dia sem sair de casa, aqueles que vivem em regiões mais distantes nem sempre têm a mesma oportunidade.

Falta internet para estudar ou trabalhar dentro de casa — isso sem contar o trabalhador que exerce funções em que o home office não é possível — e qualquer banco ou supermercado está a muitas quadras de distância.

Moradores mais dependentes dos serviços públicos

O arquiteto também aponta que moradores das periferias costumam ser mais dependentes dos serviços públicos, incluindo o transporte, que em tempos de quarentena tem a maioria de suas linhas reduzida.

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Moradores das periferias são mais dependentes do transporte público. (Fonte: Pexels)

Enquanto os moradores de regiões mais abastadas só vão se expor à possibilidade de contaminação nos locais de destino — permanecendo protegidos em seus trajetos a pé ou de bicicleta —, as pessoas da periferia já correm risco no simples ato de circular pela cidade. “Se as periferias tiverem um melhor acesso a serviços, isso diminui a necessidade de deslocamento”, analisa Hardt.

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Por outro lado, o especialista acredita que muitas prefeituras estão percebendo que existe ganhos social e político de ofertar serviços essenciais mais bem-distribuídos na malha urbana do município. Como exemplo, ele cita as grandes metrópoles que têm administrações regionais, como as subprefeituras de São Paulo ou as Ruas da Cidadania de Curitiba.

Fonte: Carlos Hardt, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana-PPGTU, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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