Por que o Brasil é o 3º país com mais mortes no trânsito?

15 de janeiro de 2022 5 mins. de leitura

Conheça alguns elementos que causam o alto número de acidentes de trânsito no País

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O Brasil é o terceiro país com mais mortes no trânsito em todo o mundo, segundo o Global Status Report on Road Safety de 2018. O País perde apenas para a Índia e a China, que são seis vezes mais populosas. Mesmo os Estados Unidos, cuja população é de 330 milhões de pessoas, têm menos óbitos no tráfego. Mas por que isso acontece?

Confira alguns desafios do sistema de mobilidade que precisam ser enfrentados para produzir um transporte mais seguro aos brasileiros.

1. Cultura de trânsito “carrocentrada”

Nas grandes cidades, a distribuição do espaço é pensada a partir do deslocamento dos automóveis e não da mobilidade ativa, que se torna fonte de risco. (Fonte: Cifotart/Shutterstock/Reprodução)
Nas grandes cidades, a distribuição do espaço é pensada a partir do deslocamento dos automóveis e não da mobilidade ativa, que se torna fonte de risco. (Fonte: Cifotart/Shutterstock/Reprodução)

O trânsito brasileiro é voltado para quem dirige. Por isso, outras formas de se deslocar nas cidades acabam sendo sinônimo de perigo, sobretudo na mobilidade ativa e isso vem de raízes históricas. Não é novidade que o Brasil depende quase exclusivamente das suas rodovias. A ausência de ferrovias e de hidrovias cobra um preço caro, e essa lógica invade as cidades.

A falta de infraestrutura para outras formas de mobilidade faz com que o carro seja a opção preferencial de quem pode pagar por ele. Além disso, o automóvel é sinônimo de status social: andar de ônibus e andar de carro apresentam dimensões valorativas muito distintas, assim, o carro não significa apenas uma forma de deslocamento, mas um bem simbólico. E isso ajuda a explicar por que há dificuldade política em tratar desse assunto.

Esse foi um debate presente na cidade de São Paulo, que concentra os maiores corredores de tráfego do País — e também um número expressivo de acidentes. Na contramão das políticas de mobilidade, que apontam que a redução de velocidade diminui a gravidade e o risco de óbito em sinistros, a prefeitura aumentou o limite máximo de velocidade nas marginais.

2. Crise dos modais de transporte coletivos

Transporte público brasileiro não oferece benefícios práticos em relação ao transporte de carro. (Fonte: Tacio Philip Sansonovski/Shutterstock/Reprodução)
Transporte público brasileiro não oferece benefícios práticos em relação ao transporte de carro. (Fonte: Tacio Philip Sansonovski/Shutterstock/Reprodução)

Para fugir do dilema de uma cultura centrada no carro, seria necessário apostar de forma pesada em trens, ônibus e metrôs. Quanto mais veículos coletivos na rua, menos automóveis individuais, mas para tornar essa opção interessante para quem dirige e, assim, diminuir os acidentes, é preciso resolver problemas práticos.

Em 1974, quando o sistema de Bus Rapid Transit (BRT) foi empregado em Curitiba, ele revolucionou o transporte da capital paranaense, que contava com cerca de 600 mil habitantes. E, mesmo com a população triplicada, o transporte coletivo da cidade ainda é considerado um modelo.

A principal razão desse sucesso é que foi possível interligar a cidade por meio de um eixo norte-sul e leste-oeste, com vias dedicadas apenas a esses ônibus, com terminais integrados e veículos biarticulados (três veículos em um) em frequência próxima a 5 minutos no horário de pico. Parecido com metrô, mas mais barato.

Além disso, alguns ônibus não fazem paradas e ligam diretamente os extremos da cidade ao centro. Como as vias são dedicadas, é possível fazer o trajeto bem mais rápido que os carros. Assim, os motoristas têm razões práticas para deixarem o carro na garagem.

Quando isso não ocorre, fica cada vez mais difícil sustentar os modais coletivos, que precisam de subsídio e são viáveis na exata medida em que são muito usados. Por isso, é comum que haja um dilema: são caros e ineficientes, porque pouco usados; e são caros e pouco usados, porque são ineficientes.

3. A moto como alternativa

 A moto se tornou uma necessidade para o setor mais precarizado da população. (Fonte: Massis/Shutterstock/reprodução)
A moto se tornou uma necessidade para o setor mais precarizado da população. (Fonte: Massis/Shutterstock/reprodução)

Diante da precariedade do transporte coletivo e sem condições de arcar com um carro, cada vez mais brasileiros optam pela moto, e isso tem um impacto direto tanto no número de acidentes no trânsito como na gravidade dos sinistros.

Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas de motos cresceram cerca de 50% de janeiro a junho de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020. Portanto, o número de ocorrências envolvendo esse veículo tende a crescer. 

Esse é um fenômeno que tem relação com a pandemia: com mais de 14 milhões de desempregados no País, os aplicativos de entregas se tornaram alternativa de renda de um enorme contingente de brasileiros. São, portanto, milhares de pessoas com longas jornadas e ritmo acelerado nas vias das principais cidades.

Diminuir os acidentes com morte implica criar alternativas para esses gargalos, que estão entre os principais desafios do trânsito no Brasil. 

Fonte: Mobilize, Garagem 360.

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