3 cidades vistas pela janela durante a quarentena

26 de agosto de 2020 4 mins. de leitura

Especialistas em urbanismo observam três cidades e avaliam transformações urbanas durante a pandemia

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A quarentena ajudou a fomentar a reflexão sobre o modo de se deslocar em metrópoles e evidenciou a desigualdade socioespacial no espaço urbano, sobretudo em países do Hemisfério Sul, onde aspectos como a concentração de renda restringem o amplo acesso às cidades.

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Três urbanistas em locais diferentes analisaram a relação do tecido urbano com a quarentena provocada pela covid-19 e apresentaram um panorama dos problemas e das soluções presentes neste momento.

1. Bombaim, Índia

Desigualdade socioespacial é grande em cidades do Hemisfério Sul, como Bombaim. (Fonte: Shutterstock)

Madhav Pai, diretor do WRI India Ross Center for Sustainable Cities, reside em Bombaim (Índia) e da janela de seu apartamento em um bairro de classe média alta vê uma cidade marcada por uma grande desigualdade socioespacial. “Sem acesso mais equitativo não há resiliência”, escreveu em artigo publicado no site The City Fix. Água, saneamento, emprego, transporte e espaço público não são bens garantidos para a maior parte da população de Bombaim e em muitos centros urbanos no Hemisfério Sul, afirma ele.

A crise pode ajudar as cidades a finalmente verem e entenderem as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores da economia informal, segundo Pai. O urbanista defende que é necessário encontrar maneiras de estender as proteções sociais e de saúde aos profissionais informais. Além disso, argumenta que é preciso expandir o acesso a moradias e espaços públicos de qualidade a preços acessíveis, garantir a prestação de serviços básicos a todos e proteger grandes projetos de infraestrutura que expandam os serviços urbanos.

2. Brasília, Brasil

Surto de coronavírus começou no Lago Sul e Plano Piloto, mas tem maior taxa de letalidade nos bairros populares. (Fonte: Shutterstock)

Frederico de Holanda, professor emérito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB), reside em Sobradinho, cidade satélite de Brasília, e observa que não há correlação direta entre a densidade urbana e a disseminação do coronavírus na região. O Lago Sul, por exemplo, na Região Administrativa mais rica do Distrito Federal, tem uma população “globalizada” e foi onde a covid-19 se instalou primeiro, segundo o especialista.

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Mesmo com baixa densidade urbana, a região teve alta incidência de infecções por coronavírus, registrando 4.238 casos a cada 100 mil habitantes. Por outro lado, o SCIA/Estrutural, a região mais pobre, com densidade 16 vezes maior que a do Lago Sul, registrou incidência 53% menor, de 2.265 casos a cada 100 mil pessoas.

Segundo o professor, a disseminação da covid-19 está velozmente migrando para as regiões mais pobres. Ceilândia, a 40 quilômetros do centro metropolitano, tem taxa de letalidade três vezes superior à do Lago Sul, enquanto o bairro nobre tem taxa de óbitos de 0,62%; no bairro popular, chega a 2,20%.

3. Curitiba, Brasil

Com frota reduzida em circulação, corredores de BRT em Curitiba são ocupados por pedestres e ciclistas. (Fonte: Prefeitura de Curitiba/Divulgação)

Partindo da observação da janela de um hotel em que ficou hospedado no bairro Água Verde, região nobre de Curitiba, Sergio Avelleda, diretor de Mobilidade Urbana do WRI Ross Center for Sustainable, fez uma análise das tendências dos deslocamentos urbanos durante a pandemia. “Os moradores estão pedindo uma mobilidade mais segura, limpa e democrática”, afirmou em artigo.

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Avelleda conta que, com escolas e serviços não essenciais ainda fechados na cidade e o sistema de Bus Rapid Transit (BRT) funcionando em baixa capacidade, curitibanos aproveitam as vias vazias para caminhar, fazer exercícios e andar de bicicleta a trabalho, lazer e até para entregar comida.

O uso dos espaços voltado para as pessoas e não para os veículos deve ser o caminho para a retomada de atividades, na visão do diretor de mobilidade urbana. “A implantação de ciclovias e a melhoria da experiência de pedestres em áreas estratégicas custam muito pouco em comparação com o investimento necessário para construir e manter estradas para carros”, argumenta.

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