Um relatório da organização internacional World Resources Institute (WRI) aponta que o crescimento de muitas cidades brasileiras aconteceu de forma desordenada. Essa composição urbana gerou uma série de problemas, muitos deles associados à mobilidade. Contudo, é possível repensar estratégias que amenizem a situação.
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O primeiro passo nessa direção foi a criação de um aparato legal que incentivava os municípios a planejarem os espaços urbanos sobrepondo os interesses coletivos aos individuais. De acordo com os analistas do instituto WRI Brasil, a ideia tem origem na Constituição Federal de 1988 e se tornou realidade com a promulgação do Estatuto das Cidades, em 2001, que obrigou os municípios com mais de 20 mil habitantes a criarem um Plano Diretor. O documento, que deve ser atualizado de 10 em 10 anos, guia o desenvolvimento e coordena o uso dos espaços urbanos.
Embora leis de zoneamento e planos de desenvolvimento já existissem em algumas capitais, foi apenas com essas medidas pós-constituição que o planejamento urbano passou a realmente fazer parte da administração pública. Posteriormente, outras legislações federais com influência no âmbito municipal tornaram as estratégias mais completas, como a criação do Ministério das Cidades (2003) e das Leis de Habitação (2005), Saneamento Básico (2007), Resíduos Sólidos (2010) e Mobilidade Urbana (2012).
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Com os planos diretores e outras políticas públicas coordenadas, os municípios podem hoje projetar o modelo de desenvolvimento que desejam seguir. Isso envolve o modo como os espaços são utilizados, a forma como as pessoas se deslocam por eles e as iniciativas adotadas para incentivar o modelo de desenvolvimento pretendido. Em vista disso, começam a surgir soluções para reordenar a mobilidade das grandes cidades brasileiras.
1. Cidades compactas e caminháveis
É fundamental que as pessoas encontrem os serviços de que precisam em uma distância que possa ser percorrida a pé. Isso é possível com leis de zoneamento que mesclem zonas comerciais e residenciais e planos que tornem o espaço urbano mais denso e compacto, com menos espaço entre pontos importantes. Para isso, algumas cidades criaram corredores de áreas verdes para conectar os principais pontos, como Hamburgo (Alemanha) e Guangzhou (China).
Helsinki, capital da Finlândia, projetou uma rede de bairros densa e conectada, em que os moradores podem acessar todos os serviços em uma curta distância. Curitiba (PR) já atua nesse sentido há algumas décadas, com todos os prédios localizados ao longo dos corredores de ônibus sendo de uso misto: comercial em nível térreo e residencial nos andares superiores.
2. Ruas completas
Segundo o conceito de ruas completas, as vias devem ser mais do que espaços de passagem, e sim locais de convivência. Além disso, devem oferecer mobilidade segura para todos que passam por elas, não apenas para os usuários de automóveis particulares, como acontece na maioria das avenidas em grandes cidades.
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Para isso são construídas calçadas mais largas, espaços de travessia mais seguros, ciclovias protegidas, com intervenções que tornem mais agradável andar a pé ou de bicicleta, como árvores e canteiros. Assim, mais pessoas se sentem incentivadas a trocar o carro por meios de transporte mais sustentáveis.
3. Parcerias com a iniciativa privada
Para que projetos inteligentes sejam economicamente viáveis, o poder público pode buscar recursos junto à iniciativa privada de diversas maneiras. Em São Paulo (SP), a prefeitura comercializa títulos que permitem construir áreas maiores que o coeficiente de aproveitamento básico e utiliza os recursos em obras de infraestrutura — as quais posteriormente valorizam os imóveis, gerando vantagens para todos os envolvidos.
Belo Horizonte (MG) também adotou uma estratégia de parceria para implementar melhorias nos pontos de ônibus. Uma empresa privada é responsável por construir e manter os abrigos, ganhando a possibilidade de vender espaços de publicidade nas paradas. O resultado são pontos com coberturas maiores, mais proteção contra vento e chuva e painéis com informações atualizadas em tempo real sobre as linhas.
4. Integração de meios de transporte
Os especialistas do instituto WRI Brasil afirmam que os desafios de mobilidade das grandes cidades brasileiras podem ser resolvidos de forma mais eficiente com a criação de redes integradas de transporte, nas quais os passageiros possam combinar diferentes modais para completar seu trajeto. Iniciativas desse tipo podem ser encontradas em municípios que oferecem espaço para levar a bicicleta no transporte coletivo, por exemplo.
Home office por coronavírus tem efeito sobre a mobilidade urbana
Um dos melhores modelos de integração do Brasil vem de Fortaleza (CE), onde a prefeitura criou um serviço de aluguel de bicicletas que é gratuito para usuários do bilhete único municipal. As pessoas retiram as bicicletas nos terminais de ônibus e podem ficar com elas por 14 horas. Esse período mais longo permite, por exemplo, ir com a bike para o trabalho, ficar com ela durante o expediente e voltar para o terminal ou então ir para casa e devolvê-la apenas no dia seguinte.
Fonte: WRI Brasil
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