Como serão as cidades 10 anos depois do coronavírus?

15 de agosto de 2020 5 mins. de leitura

Especialista em transportes analisa cenário da mobilidade em meio a pandemia e faz previsões otimistas

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Em pouco tempo, a pandemia do novo coronavírus provocou mudanças profundas nos cenários dos grandes centros urbanos. Várias cidades em todo o mundo sentiram a necessidade de acelerar projetos de mobilidade para garantir o deslocamento de seus habitantes de maneira mais eficiente e ao mesmo tempo segura.

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Na Europa, muita coisa está sendo feita para incentivar o uso de meios de transporte alternativos; ciclovias foram criadas e ruas têm sido fechadas para aumentar a circulação de pedestres. A pergunta que fica é: será que essas mudanças serão, de fato, permanentes? As cidades se tornarão mais inclusivas ou tudo voltará a ser como antes?

Em artigo para o Instituto de Pesquisa WRI Brasil, o professor Luis Antonio Lindau, diretor do Programa de Cidades da organização e doutor em Transportes, aponta caminhos otimistas para o futuro da mobilidade urbana. O especialista divide as mudanças em três fases, que deverão se desenrolar pelos próximos dez anos. 

Primeira fase

Calçadas mais amplas e novas ciclovias vão incentivar o uso de meios de transporte alternativos nos centros urbanos. (Fonte: Sybille Reuter / Shutterstock)

Para Lindau, a primeira fase da transformação já foi iniciada, com a necessidade do isolamento social devido ao coronavírus. Com o sucesso do sistema de home office, do ensino à distância e do cuidado de muitos em evitar as aglomerações em ônibus e metrôs, o autor acredita que a demanda por transporte público possivelmente continue em queda. 

Esse modal já estava em crise antes da crise, e, depois da pandemia, estima-se que a demanda caia em três quartos. Muitos governos já se viram obrigados a intervir para impedir a falência dos sistemas públicos de transporte e garantir o seu funcionamento.

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Com a preferência pela mobilidade ativa para evitar aglomerações, as cidades têm sido incentivadas a expandir as áreas livres e as rotas para pedestres e ciclistas. As calçadas estão sendo ampliadas e as ruas foram fechadas ao tráfego de veículos.

Nesse contexto, a prioridade será dada aos veículos de entrega, para acomodar o aumento das vendas online. Consequentemente, os congestionamentos devem diminuir, bem como os acidentes de trânsito. Além disso, a qualidade do ar tende a melhorar, contribuindo para a saúde de todos.

Segunda fase

Em um segundo momento, o especialista prevê adaptação e melhora significativa na qualidade dos serviços de transporte público. Enquanto muitos continuarão a trabalhar e a estudar de casa, diversas empresas vão oferecer horários alternativos aos seus colaboradores, para que eles possam se deslocar fora dos horários de pico. 

Lindau também acredita que, como os benefícios de um modelo de transporte menos centrado nos veículos automotores serão muito mais visíveis, os líderes serão incentivados a tomar medidas mais duras para diminuir o tráfego de automóveis. 

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Fariam parte dessas medidas a cobrança de impostos de aplicativos de transporte, normas de taxação de congestionamentos, criação de zonas livres de carros e motocicletas e proibição de estacionar em áreas de maior densidade populacional. A receita vinda das taxações e dos impostos seria direcionada a manter os serviços de transporte público.

Terceira fase

Com os avanços da tecnologia, novas empresas de compartilhamento de carros elétricos e autônomos poderão surgir nos próximos dez anos. (Fonte: Shutterstock)

A última fase seria a da consolidação. Lindau prevê que, com o aumento dos espaços para pedestres e ciclistas, o comércio local tenha mais chances de prosperar e a economia baseada na vizinhança provoque a regeneração de áreas deterioradas. 

O especialista também acredita que os sistemas de transporte público conseguirão recuperar os seus passageiros por passarem a oferecer um serviço mais direto, frequente e rápido, além de uma frota renovada e sustentável com veículos elétricos e híbridos. 

Os avanços tecnológicos permitirão a digitalização completa dos transportes, com uso de dados que vão resultar em serviços sob demanda e sob medida para o usuário. Novas empresas de compartilhamento de carros elétricos e autônomos poderão surgir em um futuro próximo.

Desafios

Em seu artigo, Lindau lembra que as mudanças de mobilidade não serão positivas em todas as cidades. Segundo o professor, locais que ignoram a nova dinâmica ou que são abandonados por governos sobrecarregados ou insensíveis podem experimentar outra realidade até 2030, como o colapso total dos operadores de transporte público e privado.

Uma grande variedade de serviços de transporte informais e motorizados preencheria esse vácuo, causando um efeito contrário ao esperado: congestionamentos, acidentes e aumento da poluição do ar, prejudicando, principalmente, os moradores das periferias.

Fonte: WRI Brasil

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