Desenvolvido em Portugal, o Bike Friendly Index mede o preparo dos municípios para a circulação de ciclistas
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A bicicleta tem ganhado cada vez mais espaço nas discussões sobre mobilidade urbana. Segundo dados do Transport and Climate Change Global Status Report COP 24, o número de sistemas de bikes compartilhadas no mundo praticamente dobrou de 2016 para 2017.
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A tendência vem acompanhada pelo movimento mundial do cicloativismo, que incentiva as pessoas a pedalarem em prol de um melhor fluxo do trânsito e mais sustentabilidade.
Nesse cenário, como um município poderia compreender, de maneira rápida e eficiente, sua capacidade de adesão a uma “cultura da bicicleta”? A resposta vem de Portugal.
Os pesquisadores David Vale e Antonio Pedro Figueiredo, do Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design (Ciaud) da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, desenvolveram um método de avaliação que considera algumas variáveis de uma cidade em seus cálculos, tais como declive das zonas urbanas, áreas construídas, infraestruturas existentes no perímetro urbano e dados de compromisso político municipal, como a existência de leis e projetos de incentivo a formas alternativas de transporte.
Ao quantificar e cruzar essas informações, chega-se a um valor médio, chamado Bike Friendly Index (BFI), que indica em uma escala de 0 a 10 o quanto uma cidade tem potencial para o uso de bicicletas como meio de locomoção (quanto mais próximo de 10, maior é a capacidade do município).
O estudo constatou que o índice geral apresentado em Portugal foi de apenas 2,3, valor considerado muito baixo para um país que é atualmente o segundo colocado da Europa em produção de bicicletas, de acordo com o Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat).
Incentivo ao uso de bicicletas se torna solução
Boa parte das bikes produzidas em território português é destinada à exportação. Vale acredita que o que desvaloriza esses veículos é o baixo investimento do poder público, somado a um processo de associação dos automóveis a um símbolo de status social. Segundo o pesquisador, em reportagem do jornal português Público, existe um cenário de “grandes investimentos na rede rodoviária”, o que ocasionou uma situação de “esquecimento em relação a outros meios de mobilidade, como a bicicleta e os transportes ferroviários”.
A resposta é simples: seguindo o exemplo das cidades que apresentam os melhores índices, como Murtosa, localizada no distrito de Aveiro, em Portugal, que marcou BFI de 6,1, o mais alto do país. A vila dispõe de 16,3 quilômetros de ciclovias construídas em um território predominantemente plano e apresenta pequenas distâncias entre os aglomerados urbanos.
Nos anos de 1980 e 1990, predominava na cidade a mentalidade de que as pessoas que pedalavam eram aquelas que não podiam arcar com os custos de um carro. Isso começou a mudar a partir de 2007, quando o município lançou um projeto para a promoção do uso de bikes como meio de transporte diário, incentivando essa opção até mesmo entre os turistas.
Os estudos de Vale e Figueiredo indicam que o percurso do sucesso da bicicleta depende muito da mudança de mentalidade da população, que deve ser incentivada pelo poder público com a criação de políticas que incentivem o seu uso, e do desenvolvimento das estruturas necessárias para que os ciclistas se sintam seguros transitando pelas ruas no dia a dia. Para os pesquisadores, o nível de conscientização para o uso das bicicletas já está germinando na sociedade. “A partir de agora, é necessário aproveitar o BFI para transpor as palavras e intenções para ações concretas”, ressaltou Vale ao jornal Público.
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