O México tem um tipo de habitação que se popularizou no início do século 20 e foi o lar de muitos trabalhadores pobres: as vecindades. Em espanhol, a palavra significa bairros ou vizinhança, mas no México se refere também às grandes construções com pátios internos que foram casas da aristocracia, mas que agora abrigam diversas famílias de classes médias e baixas.
Construções de grandes moradias
Construções como essas começaram a ser erguidas no México a partir do século 16. Durante o auge da colonização espanhola, famílias aristocráticas encomendavam essas casas com estilo da Andaluzia.
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As construções tinham entre dois e cinco andares e eram constituídas por vários cômodos que circundavam um pátio interno. Esse estilo de arquitetura é reminiscente dos átrios romanos, que continuaram populares na Espanha, e também tinham inspiração da arquitetura islâmica. O pé direito alto e as aberturas para o átrio permitiam que o ar circulasse, ajudando a combater o forte calor.
Até o século 18, de onde datam a maioria das vecindades que ainda existem, esse tipo de construção continuou a ser erigida.
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Um novo significado para as casas
Com a aproximação do século 19, a estrutura econômica mexicana baseada na agricultura começava a dar sinais de esgotamento. Com o tempo, o país foi se industrializando, e as massas de trabalhadores rurais migraram para a cidade em busca de trabalho.
Aos poucos, a elite começou a abandonar o centro das cidades. No mesmo período, uma lei estatizou grande parte da propriedade da Igreja Católica, entre ela muitas vecindades. Esses lugares foram se tornando abrigo para diversas famílias de trabalhadores que só podiam pagar os baixos aluguéis cobrados nas vecindades.
Com os cômodos, que inicialmente deveriam abrigar uma ou duas pessoas, tendo que abrigar famílias inteiras, as condições nas vecindades não eram das melhores. Apesar de adaptações ao longo dos anos, a maioria das construções exigia que famílias compartilhassem áreas comuns como banheiros e cozinhas.
Logo, o modelo de coabitação das vecindades se tornou tão popular que ganhou seu lugar na cultura mexicana. Durante as décadas de 1930 e 1960, esse tipo de habitação foi retratado em diversos filmes e séries de televisão, inclusive na popular série Chaves.
O termo “el quinto patio” (o quinto pátio) se tornou uma expressão conhecida para se referir à pobreza, uma vez que as famílias preferiam evitar os andares altos para não precisarem usar as escadas, o que fazia os aluguéis ficarem mais baratos. Arqueólogos estimam que em 1925 havia pelo menos 480 vecindades em pleno funcionamento na Cidade do México.
A queda das vecindades
Com o tempo, a cidade foi expandindo para as regiões metropolitanas, e as vecindades foram sendo cada vez mais vistas como sinônimo de pobreza e falta de higiene.
Cooperaram para essa transformação negativa o fato de que algumas leis de moradia impediram a atualização do preço dos aluguéis, tornando desinteressante e até impossível que os proprietários mantivessem a estrutura dos locais.
Em 1985, um terremoto destruiu grande parte do centro histórico da Cidade do México, onde se encontravam muitas das vecindades. Algumas delas foram completamente abandonadas.
Hoje, estima-se que cerca de 100 delas estejam funcionando no modelo de coabitação. Pelos preços baixos, os lugares costumam ser a última esperança para as classes baixas, enquanto outras são tomadas pelo tráfico de drogas.
Algumas vecindades foram recuperadas e transformadas em pequenos centros comerciais com cafés, restaurantes e outros estabelecimentos. Um projeto recente do Instituto Nacional de Antropologia e História está restaurando uma das vecindades mais antigas, construída entre 1570 e 1600. A construção com diferentes tipos de pedra, rochas vulcânicas e argila mostra influências da construção asteca, além de hispânica e islâmica.
Resta saber se depois de restaurada, a construção servirá ao seu propósito de abrigar famílias ou se receberá um novo papel.
Fonte: Bloomberg, Planetizen, Geo-Mexico, infobae.