A elitização de bairros periféricos acontece em todo o mundo e gera segregação socioespacial
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A gentrificação pode ser entendida como a valorização de áreas que antes eram desvalorizadas. É o movimento de transformação de paisagens urbanas populares em ocupações típicas de áreas nobres.
Isso ocorre quando certos bairros começam a receber movimentos de revitalização, como melhora de iluminação, segurança pública, rede de esgoto, asfalto, ciclovias, parques e praças. Consequentemente, a procura por imóveis na região aumenta e, com isso, os preços também. Não apenas os valores de aluguéis e imóveis sobem, mas, no geral, toda a oferta de serviços encarece; assim, as populações mais pobres são obrigadas a se mudar para cada vez mais longe.
O termo “gentrificação” vem do aportuguesamento da palavra gentry, expressão inglesa que se remete à nobreza, e passou a ser usado como conceito pela socióloga britânica Ruth Glass na década de 1960, quando vários nobres começaram a se mudar para um bairro historicamente de trabalhadores em Londres. O movimento disparou os preços imobiliários e expulsou a classe proletária do bairro que o havia construído. Portanto, o termo pode ser entendido como a elitização de um lugar.
O investimento em infraestrutura de um bairro pobre é benéfico para a classe trabalhadora. Acontece que, quando vem acompanhado de problemas como especulação imobiliária, não é o que ocorre. Todo esse cenário acaba levando a uma expulsão das populações locais da área.
Ao saberem que um lugar vai receber um forte investimento em revitalização, interessados podem adquirir terrenos e imóveis a baixo custo e se beneficiar depois com a valorização do local. Por isso, a gentrificação é vista com críticas pela maioria dos estudiosos.
Algumas outras situações específicas levaram cidades a agir contra a disparada de preços nos aluguéis. Foi o caso de Berlim após a queda do muro, quando os imóveis do lado Oriental começaram a supervalorizar. Nova York, Paris e Chicago são outros exemplos de capitais que criaram leis nesse sentido.
Há estudiosos que encaram a gentrificação como um processo natural, é o caso do urbanista americano Adam Hengels. Ele afirma que investidores e construtoras buscam os terrenos periféricos porque, principalmente nas grandes metrópoles mundiais, simplesmente não há mais espaço para novas construções.
É o caso de Chicago, onde a legislação que impedia novas construções fez o número de habitações no centro diminuir. Nesse caso, o que influenciaria os preços seriam apenas as leis de oferta e a demanda.
O fato é que os dois fenômenos coexistem. Há um movimento de crescimento das metrópoles que levam classes médias às periferias, mas também há vários casos de especulação imobiliária que gera a segregação socioespacial. Dessa forma reproduz-se a diferenciação de bairros bonitos e feios, como também se continua impedindo o acesso das populações carentes a bens, muitas vezes essenciais.
Fonte: Ecycle, Courb, FFLCH, Caos Planejado, Rede Brasília Atual.